O CsO nasce da capacidade de se abrir para novas sensações, novas disposições. Organizações que não nos deram previamente. Cabe a pergunta, O QUE ME CONVÉM?
Todas as possibilidades são consideradas, tudo que foge à vida anestesiada, tudo que desfaz o entorpecimento da rotina, tudo que produza intensidade, tudo que gere novos agenciamentos, organizações, aumento da potência, MAIS POESIA! Seria preciso dizer: vamos mais longe, não encontramos ainda nosso CsO, não desfizemos ainda suficientemente nosso eu na verdade do ser. Substituir a anamnese pelo esquecimento, a interpretação pela experimentação poética. Encontrar seu corpo sem órgãos, saber fazê-lo, é construir o Anthakarana, uma questão crucial do astral. ''É o mundo da criação direta que é recuperado desse modo, mais além da consciência e do cérebro'', como disse Artaud. ''Juventude, velhice, tristeza, alegria, etc. É aí que tudo se decide” (Gilles Deleuze)
Deleuze e Guattari tematizam o corpo sem órgão entendo-o como um lugar ocupado, povoado por intensidades, no qual apenas tais intensidades passam e circulam; não é uma cena, nem um suporte onde aconteceria algo, É UM FANTASMA, não tem nada a interpretar, é volição pura da cena do Aleph. Há aparências de contradição, mas o corpo sem órgãos carrega regiões que pulsam, passa por intensidade, é intensivo, não extenso. Não é um espaço, nem está nele, é matéria que ocupará o espaço em tal ou qual grau, até tornar-se um índice da carne correspondente às intensidades produzidas, mas sobre tudo aos níveis de atenção alcançados em cada ato. Não há intensidades negativas ou contrárias, nessa composição matéria é igual à energia. A palavra poética erige-se, originariamente.
Atribuem a Artaud um movimento de desterritorialização, combatendo as restrições aos sentidos, prisioneiros das amarras de uma razão inventora de significados, que cunhou um sujeito promotor de uma subjetivação destinada a preservar as ordens das coisas, que se curva ao juízo de valores. O corpo sem órgãos se faz como devir, bloco de sensações, agenciamentos que se ramificam no desejo, asseguram conexões contínuas, correspondem às ligações transversais, volição que atua nas linhas paralelas, entre a brusca sacudida reanimadora do tháumazein e nosso entendimento. Citações, adaptações erigem-se, a palavra poética adapta, cita e erige-se.
KM