segunda-feira, 29 de julho de 2019

BARDO THODOL (O Livro da Tradição tibetana Bon)


Bardo Thodöl (em tibetano: བར་དོ་ཐོས་གྲོལ; transliteração Wyliebar-do thos-grolIPA[pʰàrdo tʰǿɖøl], onde bardo é "transição" e thodol é "liberação")[1], denominado também de A Grande Libertação Pela Auscultação Durante os Estados Intermediários ou Liberação Através da Escuta, é um texto pertencente à um corpus maior de ensinamentos, o Dharma Profundo da Auto-Liberação Através da Meditação nos Deuses Pacíficos e Irados,revelado por Karma Lingpa (1326–1386)


É um texto tido como sagrado no Tibete, cuja intenção é a de guiar a consciência de uma pessoa através de momentos a serem experienciados por ela após a morte – intervalo, segundo o budismo tântrico mahayana, compreendido entre a morte e o renascimento. Além disso, o texto contém capítulos que abordam os sinais da morte e os rituais a serem realizados para o funeral do corpo. Seu conteúdo é fundamental para os processos de iniciação das escolas budistas tibetanas.
Pertencente à literatura Nyingma, é o texto tibetano mais célebre e difundido internacionalmente.[2] A tradição do budismo tibetano considera este texto como um dos maiores "tesouros da terra" (gter ma), cuja compilação, datada do séc. VIII d.c., se atribui ao grande mestre Padmasambhava. Por ordem sua, o livro foi escondido para que no futuro fosse encontrado. Assim, em meados do séc. XVII, como almejado, o tertön (que, em tibetano, significa "descobridor de tesouros da prática budista"), Karma Lingpa, o encontrou no interior de uma gruta nos arredores do Himalaia.
No Ocidente foi dado a conhecer pela primeira vez em 1927, através da tradução para o inglês realizada por W.Y. Evans-Wentz.

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Não se sabe ao certo há quantos séculos ou milênios surgiu o conteúdo do Bardo Thodöl. Trata-se de uma tradição secreta, transmitida ao longo do tempo, não existindo, com isso, registros de sua origem. Oriunda da antiga religião Bön, a análise e compilação das várias versões do livro ocorreu somente no séc. VIII d.c., com supervisão a cargo de Padmasambhava, o grande santo Guru Rinpoche, o primeiro lama, tido pela sociedade tibetana como a segunda encarnação de Sidarta Gautama, o Buda.

https://pt.wikipedia.org/wiki/O_Livro_Tibetano_dos_Mortos

O Livro Tibetano dos Mortos afirma não apenas que a consciência persista após a morte, mas também que é possível morrer de modo que seja atingido o despertar da consciência e a compreensão a realidade pura

como indica o livro, saber como se conduzir nos diferentes estados de consciência do plano pós-mortem.

Nesse sentido, o Livro dos Mortos do Antigo Egito possui intenção semelhante: auxiliar o moribundo na passagem pelo limiar da morte e servir como guia para a vida da alma.
O livro foi revelado ao ocidente pelo Dr. T. W. Evans-Wentz, pesquisador da Univesidade de Oxford, que traduziu e examinou seu conteúdo, lançando-o em 1927, e alcunhando-o de "Livro Tibetano dos Mortos". Em uma de suas edições, C. G. Jung escreve um prefácio analisando o texto a partir de um ponto de vista psicológico. Jung declara ter sido um leitor assíduo do livro, devendo a ele muitas de suas ideias fundamentais. Ao afirmar que este livro "revela os profundos segredos da alma", ele declara:
"Todo leitor sério forçosamente irá perguntar-se se estes antigos sábios lamas, afinal de contas, não poderiam ter vislumbrado mesmo outras dimensões, arrancando com isso o véu de um dos maiores mistérios da vida.

 O conhecimento do texto, reconhecido como sendo uma das quintessências da filosofia mahaiana, é um poderoso guia para a consciência do moribundo atravessar os cambiantes fenômenos dos reinos pós-morte: os estados de consciência que continuam por, no mínimo, 49 dias após a morte, seguindo até a próxima encarnação. Segundo observa Evans-Wentz, o Bardo Thödol é um processo de iniciação cujo propósito é restaurar, no espírito do desencarnado, a divindade que ele perdeu ao nascer. O livro, em linguagem ricamente alegórica, além de alertar o espírito a guiar-se pelo grande caminho da libertação (segundo o budismoː libertação do sofrimento de permanecer no eterno retorno dos ciclos do samsara)



Segundo o texto, a experiência do pós-morte é como se a consciência despertasse de um sono profundo. O livro declara que, após a morte, o ser desencarnado se confronta com várias cenas, visões, aparições, etc. Em cada um dos planos ocorre experiências e visões distintas e por vezes aterradoras. Assim, a leitura ritualística aconselha ao moribundo a atravessar todo o processo com total tranqüilidade e consciência desperta. 
"O importante não é somente a preparação ""
  após a morte, tudo o que ver e se experienciar lhe parecerá real, embora se trate fundamentalmente do conteúdo de sua própria mente projetado e tornado perceptível tal como se fosse realidade - ou seja, tudo o que vivenciar não é outra coisa que suas próprias formas-pensamento, ou melhor, a experiência de si próprio. Assim, no plano do pós-morte, a consciência experiencia a vida a qual acabara de viver, mas sob uma nova perspectiva: em lugar de experienciar a realidade a partir de si, a consciência vivencia a si a partir da própria realidade ao qual experienciou. Ao longo da leitura, o texto adverte sempre que as visões são apenas a projeção e emanação de sua própria consciência.
O livro insiste que a pessoa deve compreender que a primeira visão que lhe acometer, a percepção da irradiante Clara Luz Primordial, é a visão do mergulho da consciência sobre teu próprio ser - um vislumbre do esplendor que emana de sua própria essencialidade, a energia propulsora que habita o vazio do coração (ao qual, pela última vez, acabara de bater). Assim, o livro intenta ao moribundo a não se abalar com tal vislumbre, preparando-o para a apreensão das visões subsequentes.

Segundo a tradição tântrica, a única verdade é a Clara Luz, ou seja, a própria manifestação do vazio - de formas e substâncias -, pura consciência irradiante. Concentrar-se nessa Luz, e somente nela, é abandonar todos os afetos do Ego e atingir a consciência supramundana universal, a iluminação do Nirvana

 o conteúdo da mente projetado e tornado visível dependerá das crenças e criações mentais anteriores. Assim cada pessoa obterá experiências totalmente diferentes umas das outras
O Bardo Thodol é um guia para aquele que não teve a oportunidade de praticar em vida a percepção e reconhecimento da essencialidade da mente. Ou seja, o livro é um guia para que o recém-falecido não se perca em suas próprias criações mentais e não caia em reinos inferiores de grande ignorância e sofrimento. Em um contexto mais amplo, o Bardo Thodol é um guia de transferência de consciência, uma prática conhecida como Powa. A consciência do falecido pode ser conduzida para uma "terra pura", onde ele teria a oportunidade de praticar e reconhecer a natureza da mente, da qual ele teve um vislumbre como Clara Luz no início do bardo da morte.
Acredita-se também que há semelhanças entre o conteúdo do Bardo Todhöl e as pesquisas sobre a ação das moléculas de DMT na glândula pineal, bem como a relação das descrições do texto com as experiências de êxtase divino, uso de substâncias enteógenastranse ritualísticoprojeção da consciência, etc. 
Atualmente sabe-se que a glândula pineal é formada no feto após 49 dias, tempo semelhante descrito no livro ao período de perambulação da consciência através dos estados intermediários de existência.[6]



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