sábado, 12 de outubro de 2019

Esto sería siempre posible y a veces útil...



Pero si aislamos el resorte funcional de la crítica pascaliana, si disociamos este sencillo análisis de la presuposición de su pesimismo cristiano, lo que no es imposible, podemos hallar en él -como, por otra parte, en Montaigne- las premisas de una filosofía crítica moderna, es decir, de una crítica de la ideología jurídica, una desedimentación de las superestructuras del derecho que esconden y reflejan a la vez los intereses económicos y políticos de las fuerzas dominantes de la sociedad. Esto sería siempre posible y a veces útil...



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Pero más allá de su principio y de su resorte, esta pensée pascaliana se refiere quizás a una estructura más intrínseca. Una crítica de la ideología jurídica nunca debería olvidarla. El surgimiento mismo de la justicia y del derecho, el momento instituyente, fundador y justificador del derecho implica una fuerza realizativa, es decir, implica siempre una fuerza interpretativa y una llamada a la creencia: esta vez no en el sentido de que el derecho estaría al servicio de la fuerza, como un instrumento dócil, servil y por tanto exterior del poder dominante, sino en el sentido de que el derecho tendría una relación más interna y compleja con lo que se llama fuerza, poder o violencia. La justicia -en el sentido del derecho (right or law)- no estaría simplemente al servicio de una fuerza o de un poder social, por ejemplo económico, político o ideológico que existiría fuera de ella o antes que ella y al que debería someterse o con el que debería ponerse de acuerdo según la utilidad. Su momento mismo de fundación o de institución nunca es por otra parte un momento inscrito en el tejido homogéneo de una historia, puesto que lo que hace es rasgarlo con una decisión. Ahora bien, la operación que consiste en fundar, inaugurar, justificar el derecho, hacer la leyconsistiría en un golpe de fuerza, en una violencia realizativa[xx] y por tanto interpretativa, que no es justa o injusta en sí misma, y que ninguna justicia ni ningún derecho previo y anteriormente fundador, ninguna fundación preexistente, podría garantizar, contradecir o invalidar por definición. Ningún discurso justificador puede ni debe asegurar el papel de metalenguaje con relación a lo realizativo del lenguaje instituyente o a su interpretación dominante.


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En la estructura que describo de esta manera, el derecho es esencialmente desconstruibleya sea porque está fundado, construido sobre capas textuales interpretables y transformables (y esto es la historia del derecho, la posible y necesaria transformación, o en ocasiones la mejora del derecho), ya sea porque su último fundamento por definición no está fundado. Que el derecho sea desconstruible no es una des­gracia. Podemos incluso ver ahí la oportunidad polí­tica de todo progreso histórico. Pero la paradoja que me gustaría someter a discusión es la siguiente: es esta estructura desconstruible del derecho o, si ustedes prefieren, de la justicia como derecho, la que también asegura la posibilidad de la desconstrucción. La justicia en sí misma, si algo así existe fuera o más allá del derecho, no es desconstruible. Como no lo es la desconstrucción, si algo así existe. La desconstrucción es la justiciaTal vez debido a que el derecho (que yo intentaría por tanto distinguir normalmente de la justicia) es construible en un sentido que desborda la oposición entre convención y naturaleza (o quizás en cuanto que desborda esa oposición), el derecho es construible, y por tanto desconstruible, y, más aún, hace posible la descons­trucción, o al menos el ejercicio de una desconstrucción que en el fondo siempre formula cuestiones de derecho, y a propósito del derecho.  Jacques Derrida

quinta-feira, 10 de outubro de 2019

Rumo ao incontrolável!


Marcação individual...


Consenso entre republicanos da Câmara, acareação entre ex-procurador, Viktor shokin e o filho de Biden é inevitável. Shokin, 66, se tornou procurador-geral da Ucrania em 2015 prometendo uma batalha inflexível contra a corrupção naquele país. Sua efetivação foi inclusive aplaudida por grandes doadores, como Estados Unidos, União Européia e Fundo Monetário Internacional. Entre as empresas na mira de Shokin, estava a companhia de gás Burisma Holdings, cujo cabide de empregos negociáveis abrigava o filho de Biden em seu ''Conselho'', pela bagatela de 50.000$ mensais. Proprietário da Burisma também é um ex-membro do governo anterior, e seu envolvimento no escândalo que levou o então Vice-Presidente americano, Joe Biden, a pressionar o governo ucraniano da época para demitir Shokin, não pode ser descartado, pois este investigava justamente seu filho, quano as pressões vindas de cima começaram. Para pressionar Poroshenko a demitir Shokin, o governo Obama (a pedido de Biden) reteve (esse governo sim fez isso!) 1 bilhão de $ em garantias de empréstimos. O dinheiro só foi liberado após a renúncia de Shokin e o arquivamento das investigações por seu sucessor.
KM

quarta-feira, 9 de outubro de 2019

Há um preço a pagar pelo uso das metáforas óticas


Há um preço a pagar pelo uso das metáforas óticas: trata-se nos dois casos de um uso tecnológico de lentes que, ampliando ou reduzindo o objeto a ser estudado em uma dimensão espacial, possibilita que ele permaneça, pelo menos por um momento, sob o controle do intérprete doador de sentido...

Por exemplo:

A Câmara não estabeleceu nenhum procedimento que permita ao presidente até mesmo as proteções mais básicas exigidas pelo devido processo previsto na Constituição e pela Justiça básica em violação a todos os precedentes jurídicos.O princípio constitucional do contraditório e da ampla defesa não foi, em nenhum momento, observado pela ânsia inquisitorial dos democratas por holofotes.

A defesa de Trump deve ter o direito de examinar evidências, testemunhas e ter advogados presentes nas audiências. E deve também ter o direito de arrolar suas próprias testemunhas, mesmo que sejam estrangeiras.

Além do mais, os legisladores republicanos deveriam ter permissão para emitir intimações, uma ferramenta que lhes permitiria apresentar suas próprias evidências para tentar contrapor os argumentos dos democratas.

A Casa Branca também disse que a investigação não é legítima, absolutamente, porque o plenário da Câmara não votou para autorizá-la, reiterando um argumento frequente de alguns legisladores republicanos.

Inúmeros especialistas jurídicos concordaram que dar a Trump algumas proteções básicas e permitir a participação de seus advogados tornaria o processo mais justo, e menos duvidosamente inquisitorial e apressado sumariamente. Ignorar as salvaguardas do devido processo, que são padrão no sistema legal dos EUA,assim como das prncipaks democracias do ocidente, pode fazer o povo americano questionar a legitimidade do processo de impeachment, se é que já não o estão fazendo desde o primeiro minuto.

De volta à questão do “yes” joyceano assombrado por espectros - LEITURA EMBRUXADA


l a temática do traço, recorrente de formas diversas em sua obra (“traço”, “suplemento”, “differance”, “segredo”, “cinza” “espectro”, “dádiva” podem e devem ser trabalhados como variações da temática da não-presença na presença

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Assombrados permanentemente pelo nada visível dos espectros, não podem ser desconstruídos porque já se desconstroem desde sempre. Mas é preciso acrescentar logo que essa desconstrução já existente não é privilégio do texto literário. O espectro que assombra a literatura assombra também outros textos. Na literatura, contudo, essa não-presença espectral torna-se particularmente visível. Como diz o próprio Derrida em Mémoires, for Paul de Man, “existe desde sempre desconstrução, operando em obras, especialmente em obras literárias” (DERRIDA, 1986). Talvez seja essa visibilidade maior da desconstrução na literatura que, no final das contas, justifique a resistência à interpretação, na medida do possível, em textos como o Ulysses, de Joyce. Mas, se no tratamento de Joyce não se justifica, na perspectiva de Derrida, nem a prática desconstrutiva e nem a prática interpretativa tradicional, resta ainda tentar precisar a natureza do texto derridiano sobre a literatura. Uma indicação dessa natureza aparece nos parágrafos finais do texto sobre o Ulysses.

O penúltimo parágrafo de “Ulysses Gramophone” retorna à questão do “yes” joyceano assombrado por espectros para afirmar que o termo “permanece recomeçando e repetindo se a si mesmo, um número infinito de vezes” . Derrida aponta aqui para a  lógica ferrenha da iterabilidade, possivelmente visível com força particular em Joyce, mas estruturalmente presente em qualquer signo, evento, coisa, origem ou presença. A presença de qualquer “yes”, em Joyce ou em qualquer outra situação, constitui um evento singular: acontece uma única vez e é absolutamente única em sua diferença em relação a qualquer outro “yes” no passado ou no futuro. Por outro lado, contudo, esse “yes” só pode existir em sua singularidade se já estiver desde sempre marcado pela lógica da iterabilidade, ou seja, pela condição de poder ser repetido de forma diferente e em outros contextos. Derrida lembra em “Signature, Event, Context” que “iter deriva de itara, other, em sânscrito” (DERRIDA). A estrutura da iterabilidade determina que em cada “yes” ou em cada singularidade habita desde sempre um outro espectral que a divide e a torna “plus d’un”: ao mesmo tempo “não um” e “mais do que um”. É a lógica da iterabilidade, de resto, que se faz presente em qualquer tipo de escrita (e não apenas na linguagem literária), seja ela “pictográfica, hieroglífica, ideográfica, fonética, alfabética” (DERRIDA) e que permite a essas linguagens operar independentemente de quem a recebe. “Uma escrita”, diz Derrida, “que não fosse estruturalmente legível – iterável – para além da morte do receptor não seria mais uma escrita” (DERRIDA). E permite também que operem independentemente do seu emissor ou produtor. “Escrever”, completa Derrida, “significa produzir uma espécie de máquina que se torna produtiva, e que não terá seu funcionamento impossibilitado pelo meu desaparecimento futuro” (DERRIDA,

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LEITURA EMBRUXADA


Entregue às palavras
na curva da noite,
oferta de leitura ao mistério
e desdém hierático
pelo mundo? E esses
ciúmes sapientes?
entre amores, autores e essências
o anoitecimento da alma
pressentido entre queixumes,
entre beijo e boca se evaporando.
Fixando as coisas que respiram,
seus interiores contestatórios
apareciam como fio central
e sem nome da suspeita,
zombando dos versos
e sua fissura por mulheres
que esfriam discursos.

--- Aqui é o tempo do dizível, nossa pátria ---
eu dizia
--- onde perecem as coisas vivíveis,
a chama de um doce limbo,
astúcia e coisas ao alcance
dentro do olhar, KAMA-MÍDIA ----

dados econômicos mistos de todo o mundo aumentaram as esperanças de mais estímulos dos bancos centrais para impedir uma recessão global.

Vaga pestana de olho fixo
fixando as coisas sem filtro,
sem mestre, na abertura do mundo
insinuando-se sem densidade,
pelas gretas das jaulas de pele;
KAMA continua ecoando.
Respira surdamente no mundo,
com seus interesses de drama
e de mercado --- uma rua,
um olho -- clama o escravo cognitivo,
mas sem o brilho da luta de classes,
some sem antídoto no escuro
do mundo sem nome, que se diverte
apenas fumando ou correndo
através de suas leituras.

Farol tímido, restrito ao olhar?
Compreensão e pedidos da Bruna:
no seu longo túnel de risos
alguma dialética negativa
atravessando o pescoço
e vindo grudar-se como musgo
nos objetos voadores do ego
--- no ar, ao vivo! --- entrando e
saindo do tempo, segundo rápidas
crispações de afeto mascarado,
etiquetados em tudo quanto
àquele ''humanero'' superfaturado,
pó de todas as coisas televisionadas.


Veio de mofa anti-conceitual?
Fingindo bem a todo poderosa
PALAVRA de autoridade indeterminada,
entre o tudo e o nada, no ENTRE
DA SUSPEITA, suspenso
nos limbos de gargantas dos livros,
buscando a coisa selvagem informulada
---- Aleph sub-júdice, comentário
do comentário místico... forçado? ---
enquanto ''mercadorias espreitam-me'' e
''o tempo ainda é de fezes'' e o
''mesmo impasse'' persiste ad nauseam.
Não é, minha Flor? Ler Le Nausee
e explicar-lhe o nada foi fácil,
mas sob a pele das palavras
era minha própria náusea,
sem poema nem filosofia,
e considerada sem ênfase,
quem afastava Sartre do assunto.
Os jornais seguiam ruminando
suas esperanças miúdas
em meio a um rio de negociações,
totalmente cúmplices
do Esquecimento do Ser
com sua política de políca publicitária.
E enquanto sequer se colocava
a pergunta do poeta pelo Ser,
o poeta lia-O, exercitava-se e banhava-se
nas águas de leitura do Ser,
meditando em catacumba heideggeriana
um futuro menos horroroso para seu estupor.
Livro. Nome. Advertência de poema exposto:
rizomaticamente ativo, e com os jornais
no lugar correto, o apontamento-grifo
embruxava totalmente a leitura.

Arquiescritura da mente,
num anoitecimento sonâmbulo
da linguagem e da imagem do mundo
que crispa o Mercado e suas interrogações.
Deriva impregnada de ermos da lua,
sem delicadeza, sem agasalho, sem
cigarros, tossindo entre prédios ---
frio central vadeado, um rio na
fome de traição da Natureza,
no seu célebre riso de chuva
e vento nas estradas, e nos
receios de ajuda dos homens,
suas suspeitas lentidões de láudano
em momentos de pose de estátuas,
suas sábias consultas, suspeitas
de olhos acesos recuando
''daquelas posições'',
tão sabidamente defendidas.

mATHEUS dULCI, KM

Algumas alternativas propostas para traduzir o termo ''trade'' podem ajudar a entender o problema?



Em ensaio dedicado principalmente a uma reflexão sobre o desafio que deve enfrentar qualquer leitor de Derrida, diz J. Hillis Miller que, no caso desse exercício particular do ato de ler, obviamente diverso do sentido corrente de “leitura” enquanto processo que leva à compreensão de um sentido, é preciso entender de saída que somos todos, muito provavelmente, uma “comunidade de maus leitores”. Acrescenta logo, contudo, que nem todos esses maus leitores praticam a “má leitura da mesma maneira” (MILLER). Somos todos maus leitores porque acabamos sempre por fixar e definir um sentido em um texto que sugere que o sentido não pode ser fixado ou definido. As estratégias para promover a indefinição de sentido são variadas: o hábito de tudo questionar de forma ferrenha, perseguindo sentidos em todas as direções sem definir nenhum de forma final; a listagem etimológica de sentidos que constituem sinônimos só na aparência, revelando-se incompatíveis no final das contas; a sugestão frequente de que uma palavra ou uma frase em um texto pode desencadear um processo interminável de leitura; a obsessão com aporias. Para o leitor que procura fixar sentidos, esse tecido de digressões e adiamentos, que deve necessariamente desacelerar o ato de ler, é uma tarefa penosa, entediante, talvez impossível. No entanto, como afirma Miller, é preciso sempre lembrar que há maneiras diversas de ler mal. 

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Algumas alternativas propostas para traduzir o termo ''trade'' podem ajudar a entender o problema?

Nunca ha sido más urgente otro pensamiento, ante una nueva figura infiel de la fidelidad


Intentaría mostrar que, a pesar de las diferencias entre estos dos grandes debates (directos o indirectos, explícitos o implícitos), los malentendidos giran siempre alrededor de la interpretación y la posibilidad misma del malentendido, del concepto de malentendido, como también del disenso, del otro, y de la singularidad del acontecimiento, pero entonces, y en consecuencia, de la esencia del idioma, de la esencia de la lengua, más allá de su indenegable y necesario funcionamiento, más allá de su inteligibilidad comunicativa. Los malentendidos mismos a este respecto están ya pasados, pasan incluso por efectos de idioma que no son solamente lingüísticos, sino tradicionales, nacionales, institucionales —a veces también idiosincrásicos y personales, conscientes o inconscientes—. Si estos malentendidos sobre el malentendido parece hoy en día que están apaciguándose, si no disipándose totalmente, en una atmósfera de reconciliación amistosa, no hay sólo que rendir homenaje al trabajo, a la lectura, a la buena fe, a la amistad de unos y otros, a menudo de los más jóvenes filósofos de este país. Hay que tener en cuenta la conciencia creciente de responsabilidades políticas a compartir ante el porvenir: discusiones, deliberaciones y decisiones políticas, pero también acerca de la esencia de lo político, acerca de las nuevas estrategias a inventar, acerca de las tomas de partido en común, acerca de una lógica e incluso de las aporías de una soberanía (estatal o no) que no se puede ni acreditar ni simplemente desacreditar, ante las nuevas formas del capitalismo y del mercado mundial, ante una nueva figura infiel de la fidelidad...

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Nunca ha sido más urgente otro pensamiento: un pensamiento que implique una crítica desconstructiva desengañada, despierta, vigilante, atenta a todo aquello que, a través de la estrategia más acreditada, a través de la mejor legitimada de las retóricas políticas, de los poderes mediáticos y teletecnológicos, de los movimientos de opinión espontáneos u organizados, solda la política con la metafísica, con las especulaciones capitalistas, con las perversiones del afecto religioso o liberal, incluso con el fantasma soberanista, sin duda, cuando en todas las frentes hay que decirlo demasiado deprisa pero no atrevendose a mantenerlo con firmeza, en todas las frentes, pero fuera de toda proporción posible...

segunda-feira, 7 de outubro de 2019

Manifesto Bon em Bataille, entre o ''riso que me toma'' e a ''experiência do nada'' ?





Esse era seu enfoque geopolítico preferido. O exercício do pensamento após o almoço , a busca das idéias cafeinadas nas contemplações tranquilas da ciência e do tabaco, prodigalizando inefáveis expansões de consciência histórica após a ceia, indescritíveis como tudo que participava de sua inteligência, assim como aqueles fenômenos produzidos pelo seu cérebro , imperceptíveis a nossos sentidos externos. ''Não importa o que aconteça, tudo é sempre uma experiência espiritual ''. Eu entendia suas frases como o clarão da luz desconhecida da mente, a terrível e confusa voz da inspiração, fontes e estratificações astrais, jorrando imagens no cérebro palpitante e atormentado de meu avô . E era sobretudo artisticamente que eu seguia seus conselhos: '' Passe a manteiga na direção das bordas; no meio afinal de contas fica bastante '' (.) ------, ele recomendava


Um Manifesto Bon em Bataille, entre erotismo e economia geral?





Dirijo o olhar a tal ponto para os fenômenos do extra-cotidiano que apenas deslizo sobre o cotidiano, tomando-o como algo derivado ou inautêntico. E enquanto fixo o adiante unico e pessoal em que minha consciência se espraia, esotéricos arrastam seus pedregulhos ideológicos para perto da fogueira, dizendo o quanto é providencial buscar seu ''nicho'' no bojo meditativo do vazio. Lá fora, o acolher sinais de angústia incendiada traçando imprevistos no rastro da fala. Nenhum horizonte imaginário acentuando a palavra dividida? Sonho sobre volições de ondas reais, guardadas na paisagem derramada na distância, no hábito da busca mapeada que alvoroça a retina e deixa sem claridade a batalha, prenunciando meu fantasma.





O VERDADEIRO UNIVERSALISMO DOS TEMPOS




Do meu livro CONTOS PROTECIONISTAS

VOLKISCH

Eu estava me sentindo como uma figura mal talhada em madeira bruta por um caricaturista bêbado. De onde ela estava talvez não fosse possível me ver direito , ou não ver como eu violava a superfície da água com grande habilidade ; meu torso se movendo com cuidado infinitesimal e grotesco sobre o rio . Aquela água aumentava minha sensação de compacticidade, ao invés de de dissolvê-la , como uma maquinaria a que observamos e ouvimos durante muito tempo . Il plonge une dernière fois ses bras dans le flanc assombri de la rivière. Le bourdon glacé des algues ! E depois, era como se aquele coágulo de sangue e osso que eu era fosse finalmente dissolvido pelo rio no movimento da miríade original, vendo e ouvindo em mim mesmo os infra-sons que transformavam meus olhos em horizontes e vales de terra. Aquele retorno balístico à mim mesmo era o mais alto prêmio da consciência, o trabalho intensivo sobre a consciência era seu próprio prêmio. A volta gradativa ao Eu , na sequência, era sempre como voltar a pôr o mundo entre dois apertados parêntesis ( as altas palavras mortas no Tempo pareciam perder até mesmo o significado de seu som morto . ----- Eu mesmo não lutei braço a braço com Satã uma noite inteira (??) --- ela disse, assim que voltei para a margem : ---- Não permita que as águas da Ira Divina o envolvam até que você tenha limpado sua alma na presença da Luz do Espírito Santo (continuou ela ) O ódio paralisa, mas a Ira liberta. Louvado seja o Senhor , Ó Supremo e Soberano (!) Com as provas a que nos submete limparemos nossas almas e de novo entraremos no reino do Teu amor imortal (!) ----, ela disse, dando formas às palavras que achava imprescindíveis usar no momento . Entramos de novo na casa , e eu a interrompi antes que ela recomeçasse a falar de política, seu assunto predileto. A cena de nosso Getsêmani político mundial ficando cada vez mais afim das minhas cordas vocais : ---- Só consigo evocar a noção do que é ''realmente político'' (Real Politk ?)  na medida em que retenho de tudo quanto considero históricamente importante suas proposições mais ''schimittianas''  ... a educação política como forma eficaz de reunir em sua essência o povo na unidade do seu destino (volkisch ). Na última página do 'Retrato do artista quando jovem'' , por exemplo , Stephen Dedalus escreveu no seu diário : ''Eu vou ao encontro, pela milionésima vez, da realidade da experiência, a fim de moldar, na forja da minha alma, a consciência ainda não criada da minha raça ''. Quando James joyce chegou a Zurique no fim de junho de 1915, era um indivíduo duplamente expatriado. Trieste (sua ''segunda pátria'' ) gradualmente conquistara a difícil afeição daquele homem de gênio inacreditável e sua família. Morou lá onze anos, metade do que viveu em Dublin . Durante esse tempo publicou Música de Câmara  , concluiu Dublinenses , revisou Stephen Hero, transformando-o no Retrato do Artista Quando Jovem ; escreveu Exilados e começou o Ulisses . Depois disso, rejeitou sistematicamente toda conversa sobre ''utopias democráticas '' com o comentário de que jamais fora mais feliz do que sob a indulgente lei do imperador austro-húngaro em Trieste .  Disse um dia para Mary Collum : ''Eles chamavam de império caindo aos pedaços, mas eu desejava era que houvessem mais desses impérios ''. Na Suíça, Joyce e família mantiveram a lealdade com Trieste, falando sua língua em casa e associando-se aos ''triestinos'' . Também em Paris continuaram nostalgicamente falando italiano . ''É a língua mais fácil para a voz '',  insistia Joyce (.) ----, concluí . Estávamos agora no celeiro lá embaixo, deslizando fluidamente com a investida do meu turbilhão joyceano ; para dentro do estábulo também com Mr. Joyce --- Mama Matrix Most Misterious : Kuskykorked ; now it is notariously known how on that surprisingly bludgeony Unity Sunday when the germogall allstar bout was harrily the ragebetween our weltington extraordinary and ... ela subiu na manjedoura e derrubou um pouco de feno em mim ; saí do estábulo e procurei a almofaça . Depois, voltei e me esquivei rápido de um coice do cavalo . Gritei com ele, usando a almofaça e mantendo -me dentro do raio ofensivo do cavalo com a agilidade de um acrobata  , chamando pelo nome dela com um sussurro matreiro de carícia obscena,  que não a incomodava nem um pouco. O cavalo virou a cabeça para trás como uma faísca, os dentes arreganhados, e relinchou poderosamente nos nossos ouvidos . --- Uma fera (.) ----, ela disse .  ''Ninguém mais tem um cavalo tão bom '',  pensei , abrindo sua baia.  Quando me voltei para ela, vi os dois enormes olhos brilhantes dela girando na penumbra como duas bolas de gude de safira sobre um fundo negro de tecido. O cavalo se retirou do estábulo energicamente, sacudindo o pescoço , as orelhas e a crina. ---- E o que você sugere para tentarmos clarificar mais a essência do povo americano e sua nova relação com o Estado (??) (perguntou-me ela ) Uma clarificação do ''político '' (como voce diz ) como modo de ser do americano médio e como as novas possibilidades de seu Estado  ??) ----, conclui ela . Dobrei o manto sobre as pernas dela e me agachei no feno com a lamparina acesa. Ela ficou deitada, me ouvindo imóvel e em silêncio, com grandes gotas de suor paradas em seu rosto , como se tivessem começado a pingar e depois parado para esperar por ela. ----- O conceito de relação AMIGO-INIMIGO  também remonta à Carl Schmitt  ; esse conceito se funda sobre a visão segundo a qual o combate (Kampf ) d.h. die reale Mogliehkeit des Krieges (a possibilidade real da guerra ) seria prévia ao comportamento político ; que a possibilidade do combate decisivo aguça as oposições existentes, sejam morais, confessionais , auto-reflexivas, midiáticas ou econômicas , até a unidade radical do ''AMIGO-INIMIGO '' (eben die Moglichkeit des Entscheidungskampfes ) .Na totalidade da oposição AMIGO-INIMIGO  reside toda a existência política do mundo. E a totalidade política não deve sr necessariamente  idêntica ao Estado e ao Povo (.) Foi Bismarck quem forneceu a definição da política como a ''arte do possível '' --- o possível não como resultado de uma escolha, mas o ÚNICO POSSÍVEL  ---- um possível que não se funda tanto num conjunto de deliberações executivas, mas que é imposto pelo destino .

Matheus Dulci, KM

domingo, 6 de outubro de 2019

EU FLUTUANTE E À DERIVA (a escolha)


A escolha não se dá mais através da repressão dos desejos, que produziu sociabilidade e ordem, como Freud defendeu em O mal-estar da civilização, Agora o estímulo de novos desejos toma o lugar da coerção e as pressões da necessidade são obscurecidas nessa sedução. Há mais liberdade na busca do prazer associada ao consumo mas o terreno continua ameaçadoramente movediço porque não há pouso estável. Tudo isso transcorre no quadro geral do "medo ambiente", expressão cunhada por Marcus Doel e David Clarke em Street Wars, Politics and the City, que Bauman adota por abranger a nova desordem do mundo, o ataque ao Welfare State (e às garantias sociais a uma vida minimamente decente) e o desaparecimento do emprego, das ocupações e de referências duráveis. Os esforços de constituição da identidade individual não arrefecem os terrores do desencaixe nem são capazes de "deter o eu flutuante e à deriva" (Bauman, 1998:32).
Bauman aponta para uma identidade fluida de indivíduos colocados na situação de "colecionadores de experiências e sensações". O consumo ávido e permanente, dirigido a sensações não experimentadas anteriormente e sempre mais intensas do que aquelas já conhecidas, resulta em uma "acumulação" que nunca é satisfatória. A liberdade de consumo da vida é permanentemente ativada na venda de alimentos, cosméticos, carros, óculos, pacotes de férias, aparelhos de ginástica etc e - aspecto sobremaneira importante, também destacado por Jameson - na oferta de estilos de vida associados às mercadorias. Esse trânsito desmemoriado no eterno presente é o de uma identidade que não se completa, numa dinâmica de desmantelamento e reconstrução que nunca alcança um ponto fixo e assombra homens e mulheres contemporâneos pela incerteza permanente e irredutível. Pode-se colecionar amores fugazes, valores temporários, enredos vagos de histórias pessoais tornadas desimportantes, consistências do "eu" sempre possíveis de serem apagadas e martírios sucedidos de novos desempenhos:
Um número sempre crescente de homens e mulheres pós-modernos, ao mesmo tempo que de modo algum imunes ao medo de se perderem, e sempre ou tão freqüentemente empolgados pelas repetidas ondas de "nostalgia", acham a infixidez de sua situação suficientemente atrativa para prevalecer sobre a aflição da incerteza. Deleitam-se na busca de novas e ainda não apreciadas experiências, são de bom grado seduzidos pelas propostas de aventura e, de um modo geral, a qualquer fixação de compromisso, preferem ter opções abertas. Nessa mudança de disposição, são ajudados e favorecidos por um mercado inteiramente organizado em torno da procura do consumidor e vigorosamente interessado em manter essa procura permanentemente insatisfeita, prevenindo, assim, a ossificação de quaisquer hábitos adquiridos, e excitando o apetite dos consumidores para sensações cada vez mais intensas e sempre novas experiências. (Bauman, 1998: 22 e 23)
Mas não se trata apenas de uma liberdade na "prisão" do consumo. A dinâmica dessa ordem abre portas para o desejo e a identidade torna-se empenhada socialmente na infixidez. A privatização, a desregulamentação e a diversificação ampliada produzem mecanismos que deixam para trás a coerção e as fábricas de ordem (objeto privilegiado da obra de Michel Foucault), que supervisionavam ou disciplinavam os contingentes humanos para a produção. A plasticidade do eu é passaporte para a viagem no universo do consumo, com seus "êxtases" de novas experiências e sensações que, aliás, nunca são os últimos. "Consumidores aptos" têm identidades fluidas ou, como adiciona Bauman, "o eixo da estratégia de vida pós-moderna não é fazer a identidade deter-se - mas evitar que se fixe" (Bauman, 1998:114). O mal-estar dos colecionadores de experiências e sensações está em uma espécie de liberdade ou urgência de satisfação em vez de adiamento, renuncia ou supressão do prazer próprios à modernidade. A inadaptação é coisa de "consumidores falhos", que Bauman define como aqueles cujos meios não estão à altura de seus desejos. A identidade fluida é aquela dos indivíduos que se "auto-deletam" (como na tecla delete dos computadores) para seguir em frente:
...a imagem de si mesmo se parte numa coleção de instantâneos...Em vez de construir sua identidade, gradual e pacientemente, como se constrói uma casa - mediante a adição de tetos, soalhos, aposentos, ou de corredores -, uma série de "novos começos", que se experimentam com formas instantaneamente agrupadas mas facilmente demolidas, pintadas uma sobre as outras: uma identidade de palimpsesto. Essa é a identidade que se ajusta ao mundo em que a arte de esquecer é um bem não menos, se não mais, importante do que a arte de memorizar, em que esquecer, mais do que aprender, é a condição de contínua adaptação, em que sempre novas coisas e pessoas entram e saem sem muita ou qualquer finalidade no campo de visão da inalterada câmara da atenção, e em que a própria memória é como uma fita de vídeo, sempre pronta a ser apagada a fim de receber novas imagens, e alardeando uma garantia para toda a vida exclusivamente graças a essa admirável perícia de uma incessante auto-obliteração. (Bauman,

A dilatação da esfera das mercadorias, na qual a mídia é imprescindível, evidencia uma "desdiferenciação" (a expressão também é de Jameson) entre a economia e a cultura que acompanha o pós-modernismo, considerado a atmosfera cultural do capitalismo tardio.




A "produção de pessoas pós-modernas" é também diversa daquela observada na modernidade. O marxista americano Fredric Jameson lembra que a sublimação, a gratificação retardada ou o ascetismo propagado na ética protestante eram componentes subjetivos indispensáveis à acumulação primitiva de capital. Os indivíduos que levaram essa inauguração adiante (com a abnegação e as barbaridades que foram capazes de cometer) estavam impregnados de uma mentalidade que os habilitava ao trabalho árduo e ao adiamento permanente do prazer, em uma agregação de vidinhas que produziu uma gigantesca guinada histórica. No momento atual, uma nova lógica cultural "coloniza" as mentes - nos hábitos, fantasias e aspirações - de forma a fazê-las funcionar nas condições diversas do modo de produção. O imaginário, as pulsões da intimidade, as maneiras de ser e os sentimentos foram incorporadas ao universo das mercadorias através de narrativas estéticas e da cultura. A dilatação da esfera das mercadorias, na qual a mídia é imprescindível, evidencia uma "desdiferenciação" (a expressão também é de Jameson) entre a economia e a cultura que acompanha o pós-modernismo, considerado a atmosfera cultural do capitalismo tardio.
Para Jameson, a linguagem da televisão e dos vídeo-clipes é expressiva da condição pós-moderna. As imagens aí se encadeiam através da rotação incessante dos elementos em que tudo é desalojado no momento seguinte, "puro jogo aleatório dos significantes" - na expressão de Iná Camargo Costa - que é sintoma desse Zeitgeist (a coerência de um tempo) com o desmonte das grandes narrativas e a suspensão da historicidade. Essa linguagem composta de uma série de puros presentes remonta à ruptura na cadeia dos significantes que, segundo Lacan, cerca a condição do esquizofrênico, onde a incapacidade de unificar passado, presente e futuro da sentença remete à incapacidade de associar passado, presente e futuro da vida psíquica. Segundo Jameson, a alienação do sujeito se desloca para a fragmentação: a singularidade se constitui e se parte no emaranhado das narrativas em eterno presente.
A "lógica cultural", para Bauman, carrega mais contingência e ambivalência. O "começo permanente" - que se origina no período em que a identidade deixou de ser atribuída através dos contextos de confiança da sociedade tradicional - é anterior ao capitalismo midiático, à especialização flexível da produção de mercadorias e à fragmentação das narrativas. Isso não invalida as contribuições de Jameson mas permite a atribuição de outros sentidos para os mesmos fenômenos. A vida em ambiente de simulacro indica para Jameson uma errância no éter da desintegração, expressão (determinada?) das linguagens fragmentadas do novo universo de produção das mercadorias. Para Bauman ainda há muito por qualificar na angústia da escolha (fundamento do empreendimento individual de auto-constituição), reservando lugar para outras forças que não se resumem às narrativas, digamos, de "abrangência sistêmica".

Se calcula toda vez que no se sabe

se calcula porque hay algo incalculable, se calcula toda vez que no se sabe, cuando no se logra predeterminar. Entonces, la apuesta estratégica siempre consiste en tomar una decisión, o más bien, paradójicamente, en entregarse a una decisión, en tomar decisiones que no pueden justificarse por completo. La decisión de apostar es tal precisa­mente porque no se sabe si al final el pari stratégique será el correcto, o el mejor. Se llega a la apuesta estratégica porque el contexto no es del todo determinable: existe pero no se lo puede analizar de modo exhaustivo; está abierto porque acontece, porque hay porvenir. Así, para poder tomar decisiones y comprometerse en una apuesta hay que aceptar el concepto de contexto no saturable, y tener en cuenta tanto el contexto como su estructura abierta —esto es, uno debe arriesgar sin saber, sin estar seguro de que se obtendrá una paga, un triunfo, etc

Jacques Derrida

sábado, 5 de outubro de 2019

Desencanto em relação a todos os especialistas e privações intelectuais alienantes pela difusão democratizante da ''perícia''



https://nagualbon.blogspot.com/2019/10/vertigens-pos-modernas-giddens-touraine.html

A modernidade trouxe a tensão entre a tradição e a especialidade. A "radicalização da modernidade", pela dinâmica do desacordo permanente e da crítica, gera tanto uma vida de autoridades múltiplas como desencanto em relação a todos os especialistas. Giddens considera um equívoco caracterizar essa "crise da razão" como pos-modernidade. Para ele, esse é um mundo muito mais aberto e contingente pela difusão democratizante da perícia, com profundas conseqüências sobre as rotinas e instituições. Ele prefere nomear esse processo de "difusão extensiva das instituições modernas" (Giddens, 1997:74) e adicionar, pela observação das novas circunstâncias, que a compressão do espaço e do tempo provocou uma intensificação ou reorganização das relações sociais. Em vista da globalização, acontecimentos locais são modelados por eventos ocorrendo a muitas milhas de distância e vice-versa (Giddens, 1990:69), motivando a construção de conceitos como desencaixe ou desincorporação, em que a reflexividade institucional e a especialização são erráticas ou descentralizadas:
Os mecanismos de desincorporação dependem de duas condições: o abandono do conteúdo tradicional, ou costumeiro dos contextos locais de ação, e a reorganização das relações sociais através de faixas de tempo e espaço. Os processos causais pelos quais ocorre a desincorporação são muitos, mas não é difícil entender por que a formação e a evolução dos sistemas de especialização são tão fundamentais para ela. Os sistemas de especialização descontextualizam-se como conseqüência intrínseca do caráter impessoal e contingente de suas regras de aquisição de conhecimento; como sistemas descentrados, "abrem-se" a qualquer pessoa que tenha tempo, recursos e talento para captá-los; eles podem, dessa forma, estar alocados em qualquer lugar. O local não é, de maneira alguma, uma qualidade relevante para a sua validade; e os próprios locais (...) assumem uma significação diferente dos locais tradicionais. (Giddens,