quarta-feira, 31 de julho de 2019

O CORPO SEM ÓRGÃOS É UM FANTASMA



O CsO nasce da capacidade de se abrir para novas sensações, novas disposições. Organizações que não nos deram previamente. Cabe a pergunta, O QUE ME CONVÉM?

Todas as possibilidades são consideradas, tudo que foge à vida anestesiada, tudo que desfaz o entorpecimento da rotina, tudo que produza intensidade, tudo que gere novos agenciamentos, organizações, aumento da potência, MAIS POESIA! Seria preciso dizer: vamos mais longe, não encontramos ainda nosso CsO, não desfizemos ainda suficientemente nosso eu na verdade do ser. Substituir a anamnese pelo esquecimento, a interpretação pela experimentação poética. Encontrar seu corpo sem órgãos, saber fazê-lo, é construir o Anthakarana, uma questão crucial do astral. ''É o mundo da criação direta que é recuperado desse modo, mais além da consciência e do cérebro'', como disse Artaud. ''Juventude, velhice, tristeza, alegria, etc. É aí que tudo se decide” (Gilles Deleuze) 

Deleuze e Guattari tematizam o corpo sem órgão entendo-o como um lugar ocupado, povoado por intensidades, no qual apenas tais intensidades passam e circulam; não é uma cena, nem um suporte onde aconteceria algo, É UM FANTASMA, não tem nada a interpretar, é volição pura da cena do Aleph. Há aparências de contradição, mas o corpo sem órgãos carrega regiões que pulsam, passa por intensidade, é intensivo, não extenso. Não é um espaço, nem está nele, é matéria que ocupará o espaço em tal ou qual grau, até tornar-se um índice da carne correspondente às intensidades produzidas, mas sobre tudo aos níveis de atenção alcançados em cada ato. Não há intensidades negativas ou contrárias, nessa composição matéria é igual à energia. A palavra poética erige-se, originariamente.


Atribuem a Artaud um movimento de desterritorialização, combatendo as restrições aos sentidos, prisioneiros das amarras de uma razão inventora de significados, que cunhou um sujeito promotor de uma subjetivação destinada a preservar as ordens das coisas, que se curva ao juízo de valores. O corpo sem órgãos se faz como devir, bloco de sensações, agenciamentos que se ramificam no desejo, asseguram conexões contínuas, correspondem às ligações transversais, volição que atua nas linhas paralelas, entre a brusca sacudida reanimadora do tháumazein e nosso entendimento. Citações, adaptações erigem-se, a palavra poética adapta, cita e erige-se.

KM


2 comentários:

  1. O elemento carnívoro do ato de escrever

    Materiais de Psamênite utilizados na redação do contador de histórias , encontrando fortes semelhanças presumíveis ''em detalhes de estilo'' com outros documentos e fotografias. Nenhuma explicação dela porém, calma e sociável como sempre. Já eu, não sabia se tinha sonhado ou sido de fato interrogado por um agente na Chancellor Avenue . Voltei de lá tonto, evitando o choque se ... e assim por diante . Jogando com algumas peças intelectuais fora de circulação, nunca cavalguei outro cavalo além desse . Mas não lemos romances para multiplicar nossas experiências, apenas para multiplicarmos a nós próprios, entre nossas condições de vida há muita coisa que só quem lê entende .Os livros de um erudito são sua serenidade (wainagium) mas ele não se prende de modo algum aos livros, devora-os e nada mais, com a serenidade de um vilão. Ou chutze , sob o céu o monopólio é uma prática comum, mas é evidente que sou o único a fazer o que faço . Sim , nos momentos de maior lucidez considero-o perfeitamente possível . Minha lucidez alcança tamanha acuidade que até meus escritos, no começo da minha carreira política, me parecem críveis. Eu fôra tão esquerdista no começo que atuara até como porta-voz dos sindicalistas radicais. Uma pequena lâmpada e uma grande paciência, para conduzir minha torrente de pensamentos no vazio do materialismo histórico , nessa época , como uma corrente sanguínea purificada. Depois, vendo que ela permaneceria irredutível com o passar dos anos , cedi . Ela me seguia com os olhos e eu não fazia outra coisa além de ir e vir, às suas ordens . E não maquinava, ao me aproximar dela. SHIH , no primeiro tom. Da alimentação diária à leitura compulsiva de romances havia uma escala contínua , até as praias do amor . E escrever é o ato de vampirizar as coisas, extraindo delas seu sabor vital . Operação psíquica que investiga e recolhe os graus materiais dessa escala, até o sabor último das coisas , pessoas e acontecimentos. Classificação gastronômica da prosa : os modos narrativos do povo , todo um cânone de procedimentos, da prosa que circula como dinheiro difícil, como alimento raro, sem a duração desnecessária daquilo que é incompatível com independência do pensamento . Arrancado ao domínio mágico e hierático do que foi assimilado , e com isso sua intenção antropológica, nos remeteremos mais uma vez à esfera profana, para destacar o elemento carnívoro do ato de escrever . Há tanta tensão na carne daquilo que é do puro âmbito da matéria, quanto em sua carnação conceitual , que também é diferente do que é determinado na carne pela ''tensão'' narrativa. O afeto fundamental da leitura, por sua vez, é a fome de matéria.

    CONSULTANDO O I CHING NA ESCOLA DA SUSPEITA
    Matheus Dulci

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  2. A literatura diz respeito à intensidade, é uma CAPTURA DE FORÇAS.

    ''A poesia está ligada a essa impossibilidade de pensar que é o pensamento, isso é a verdade que não pode produzir-se, pois ela se aparta sempre, e nos obriga a senti-la sob o ponto em que poderíamos te-la sentido verdadeiramente''
    (A.Artaud)

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