Minha luta do início com os contos
(textos dos 16 aos 19 anos de idade)
QUÃO DUB O MUNDO SUPORTA SER?
Minha cerveja acabou, e o monitor está cheio de pingos de saliva. Toda hora que tusso, respinga na tela. Meu inconsciente busca o capítulo interrompido, como um tuberculoso sob a luz da sala de madrugada. Vou até a geladeira, e é o tempo de ela começar a falar comigo . Começa devagar, lançando frases desconexas no ar e perscrutando seus desenvolvimentos nela mesma, na voz que luz onde eu paro, confuso.
---- O telefonema - gente querendo emprego público no governo - querendo dinheiro, não importa o preço da posição, sempre teve -- o isolamento, a estratificação do status quo, na relação entre seus círculos de máscaras e rosas contratuais. O quanto isso não insinua poder, peso nos acontecimentos, no fundo das aparências que duram uma temporada, um mandato, o tempo de uma reunião definitiva, um deslocamento interno brindado com scoth-intelectual, a irrelevância que passeia pelos campus e pontes entre os mundos da cidade, esses joões ninguém levianos pensando nos outros com desdém, na fragilidade da vida dos que jogam contra si mesmos, contra doenças, médicos, consultas regulares, ordens de pagamento, contas, nos hipocondríacos impotentes neurastênicos que se tornam vaidosos narcisos fechados num vidro agitado de caravela dentro de garrafa, mal uma reforma ministerial é anunciada e o operador no ponto mais avançado do front surde seu alerta no Mercado. Recuso-me seguir sendo professora! Pro inferno com alunos e ''Differánces'' totalmente circunscritas aos limites de fritura da mídia, a televisa, sexual-cosmética, come meu trabalho como petisco de tintura de falsidade ideológica inteligente, como um uso criativo do ego mal intencionado num mundo voltado para o enlouquecido não-passar de conceitos pelas pastas ministeriais. Por isso, é bom falar, vou desfazer este apartamento. Bêbada fica mais fácil dissolver o mundo. O Negócio junta suas coisas o mais rápido possível, e melhora meu salário com uma tese de doutorado em ciencia política. Mas ainda para terminar concluí que não tenho temperamento de intelectual, não sinto prazer com teoria crítica e oprime meu corpo a poesia política metálica da Escola de Frankfurt. Vá para a casa de alguma namorada,ok? ou da família de algum amigo, depois a gente dá um jeito. Portanto, prepare, a falação nos seus ouvidos vai ser geral, por não concluir seu negócio jogando filme e política nas caixas que o pessoal do partido deixou na portaria. Eles queriam um colaborateur, um panfletário e um guru espiritual atento às manobras do capital político, e encontraram uma entrada para o Chikkai Bardo totalmente sem eu --- ela disse
---- Só preciso de umas caixas --- digo e volto para o meu quarto, meu conto e meu sonho. A lata de cerveja gela minha mão, enquanto penso, minha vida parece-me um desastre psicológico mundial. Ao invés de avaliar o peso de minhas palalavras no papel, volto a pensar sem imagens, ouvindo música imóvel e ''extra-sensorialmente'' na cadeira, o baseado rola entre discos de reggae antigos: The Gladiators, The Culture, Trojan Dub Box Set e... WAve, de Tom Jobim... quão dub o mundo suporta ser, numa experiencia-limite. Porque nunca toca reggae nos momentos difíceis de nossa vida de consumidores escravizados? Não: um maço de Malboro vermelho não basta para eu dilatar o espaço da minha noite interna. E o que é esta noite? ISSO?, não, isso também não eu não sou um nada vazio de irreflexão acomodando meus neurônios à batidas repetitivas de um reggae.
Tudo estava ligado ao desejo sexual e à fome.
quem anda abrasando
eu escrevia
uma piscina, nos brasões
reflexa, Wave (Tom Jobim)
é o disco mais ''jamaicano'',
no sentido do fumo,
da posse definitiva
dos poderes do seu deus.
JAH. Ali os poderes elementares
são o estado de presença do piano.
Quando voltei a escrever, no mundo do quarto a falta de gravidade. Mundo do entretempo , da fumaça --- pouco me lixando para pontos, vírgulas e adjetivação insólita. Autêntico simbolismo irrompendo das tripas das páginas. O personagem se chamava K, pela primeira vez, um grandalhão ue vivia de trapaças e adulações de nobres boêmios caídos em apuros. Um sangue suga profissional, Espelho de Príncipe ambulante, dominador de mistérios e truques, no arrivismo da alta-sociedade.
--- E então, bonitão, há quanto tempo ---
E antes que ele dissese alguma coisa, ela tomou outra direção, com plena consciencia de que tinha o deixado sem graça.
Quarto. O som da confusão alcóolica lá fora.
--- Quanto em dinheiro?
Tive que parar de escrever, e não era só o filling , mas o time que ficava prejudicado.
Rosto fora de foco. Fotografia de pessoas em segundo plano. Execução destacada, os porcos babam pela Grande Prostituta. Balbúrdia, pândega lá fora. Inferno súbito, ela falando coisas sem nexo, acumuladas na memória, danificada por invocações irreais, etc, até que se concentrou na cena vista pela manhã, quando voltava da cidade com as compras: ''Sabe, era um garoto, um garoto esfarrapado. Tentei entender o que ele olhava, vago, no céu, e ele não olhava nada, aparentemente... '', ela ameaçou pronunciar mais delírios, continuar com aquilo, mas beijou-se as mãos e as pernas, antes de olhar para mim. Dessa vez, enfiando toda a língua dentro da minha boca. Depois, saiu correndo pela porta do quarto, súcubo-voador, adiando uma assombração. Gritou: ''MALDITO! ''.
Do dadaísmo de
Artaud Le Momo
ao ''QUEM SOU?!''
das drogas como
combustão do
''DE ONDE VENHO?'',
a poesia do real
recolhe a aventura
da vida como obra
''sob dez mil novos aspectos''
da vidência, da ''Parade'',
do Gênio da liquidação
lunática da literatura
e do uso de suas armas
até os pontos perigosos
de multiplicação sem controle
*
''Estreei na literatura escrevendo livros para dizer que não podia escrever absolutamente nada''
(Antonin Artaud)
*
Volto para o meu ''capítulo''.
Depois da cena absurda, ''ela'' parou um segundo diante do espelho da penteadeira de mogno e, após ajeitar os cabelos e a pulseira de prata, se recompôs e voltou para a pândega nos exteriores da mansão. Em meu ouvido, ao passar pela porta de meu quarto, um horrendo grito de patroa. Depois, às amigas, na mansão em festa, de salto na alto na alta, entre a aflição de dezenas de pequenas formas vegetais anônimas, transitando --- porquê naquele momento, os risos de Sabrina enchia a todos de medo. Porque o casamento, o trabalho eo futuro eram a soma de muitos ali que se viam num triângulo fechado por um tedioso remorso físico. Na melhor das hipóteses, a confusáo mental produzida por aquelas aparências de sobriedade prendiam à prioridades cegas. O olhar dela era viciado e altivo, de alguém que se apresenta para presidir uma missa negra.
A jovem cantora italiana estava conversando com um par de cavalheiros embriagados, que nitidamente a disputavam a atenção da loira. Anabelle, como sempre, tentava contar vantagens contra a concorrência, publicando fotos em redes sociais e comemorando assinaturas de contratos de publicidade. Campanhas, ela dizia, citando cifras de suas boladas pessoais.
Ela deu mais dois passos , e K., o sangue suga grandalhão, apareceu de repente.
---- Desapareceste. Agora há pouco eu o procurava como uma louca. Estava no quarto, escolhendo qual das duas conversações era a mais real? Embriagado como todas? Mas, ao contrário do que costumo fazer com desclassificados dessa laia, te ofereço meu braço, para andarmos até aqueles chorões mais afastados da propriedade e, ali, quem sabe, permanecermos um pouco calados, lada a lado, ou muda quase um minuto inteiro, deixando ao meu lado um brutamontes igualmente sem fala, fixando sedento meus lábios de rubi. Maldade pequeno-burguesa inspirada em séries da TV ? Como qualquer clichê --- ela disse
Vida (escrevi depois)
a maioria se evade da realidade
para fazer do êxito pessoal uma bruxaria,
um estigma social, que vacina em volta,
e sustenta ter luz própria, dita aos outros
sua beleza, seus brincos e pulseiras
e tanta luz prata não perde tempo
indo além das maldades simples,
da banalidade tormentosa
do Mal em si, real e constante
Assombro da platéia atrás dela. O quarto sombrio, depois, lâmpadas apagadas. Ela me olhava, achando-me grandalhão com um gesto mínimo das mãos cruzadas nas costas de seu vestido. Todos aqueles panos vieram inteiros ao chão, deixando-a seminua. Nada de ''Princesa, princesa...'. Apenas o animal sem camisa, transpirando pesado, lhe devolvendo o olhar.
Matheus Dulci KM
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