sábado, 24 de agosto de 2019

TRAKL: como lidamos com o poema? A maneira habitual seria seguir alguma forma estabelecida pela crítica literária, pela análise filológica ou seguir a ideia romântica de linguagem como expressão de sentimentos e de visões humanos do mundo. A questão que Heidegger se coloca é justamente como quebrar essas determinações. Para ele, o poema é um falar do qual nos aproximamos e escutamos deixando-nos levar por sendas inesperadas.


  1.  O chamamento primordial, que invoca a intimidade do mundo e coisas a virem é a autêntica invocação. A invocação é a essência6 da fala. O falar ocorre no que é dito no poema. A língua fala (Die Sprachespricht). Fala invocando o invocado, coisa-mundo e mundo-coisa, a virem para o entre da dif-ferença. (Heidegger
    "O verso chama o errante que se adentra no silêncio5. É o silêncio que domina a porta. Repentina e estranhamente o chamado ressoa"; (Heidegger,

  2. "A dif-ferença presencia já como a presença recolhida, a partir da qual apropriativamente acontecem mundo e coisa. Mas como?"; (Heidegger
  3. O errante adentra em silencio.
  4. "O chamar confia o mundo às coisas e simultaneamente sustenta as coisas no esplendor do mundo"; (Heidegger, 1
  5. O ser mundo do mundo não é um sistema de identidades, mas um jogo de diferenças em que cada elemento do quaterno chega a si como algo singular e estranho. A língua fala (die Sprachespricht) tem um paralelo na formulação "Das Dingen der Dinge";, algo como "o coisar da coisa";4, esbarramos aqui na dificuldade da tradução. O que nosso autor visa com isso é privar a coisa de sua substância como uma entidade subsistente.
  6. Mais que um errante,
    Chega à porta por caminhos obscuros.

  7. Heidegger fala aqui da estada no recolher, no reunir que permite o ser coisa das coisas (Das Dingen der Dinge), e é isso que ele chama de gestação do mundo.
  8.  So lernt ich traurig den verzicht: 
    Kein ding sei wo das wort gebricht.
    Assim aprendi triste a renúncia:
    Nenhum coisa seja onde se rompe a palavra.

  9. Stphn. George
  10. Não é o conteúdo do que é dito que interessa Heidegger, mas o nomear que ocorre no poema. E ele pergunta: "O que é nomear?";. "Este nomear";, diz ele, "não distribui títulos. Não aplica termos, mas chama para dentro da palavra. O nomear chama. O chamamento torna mais próximo o que é chamado"; (Heidegger, 1971, p. 198). Com essa colocação, nosso autor renuncia a toda forma de determinação da palavra.
  11. post scriptum
  12. ¿Por qué este privilegio inconmensurable de una lengua? ¿Y por qué este privilegio se determina respecto al espíritu? ¿Cuál sería la «lógica», si es que puede hablarse todavía de lógica en un ámbito en que se decide la originariedad del lenguaje y de la lengua?

    La «lógica» que justifica semejante privilegio es insólita, naturalmente única, pero irrefutable también y confiada a una especie de paradoja cuya formalización merecería un desarrollo más amplio. Requiere, dependiendo del humor, las consideraciones más serias o las más divertidas. (Esto es lo que me gusta en Heidegger. Cuando pienso en él, cuando lo leo, soy sensible a estas dos vibraciones a la vez. Resulta siempre terriblemente peligroso y locamente divertido, ciertamente grave y algo cómico).
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  13. ...el acontecimiento singular de una lengua capaz de nombrar, de invocar el ser o, mejor aún, de ser invocada por el ser.
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  14. Que el privilegio conjunto del alemán y del griego sea aquí absoluto respecto al pensamiento, respecto a la pregunta por el ser, y por tanto por el espíritu, es lo que Heidegger presupone siempre. Y en la entrevista del Spiegel ya lo dice, de una manera tranquilamente arrogante, tal vez un poco ingenua, moderada e inmoderadamente a la vez, y yo diría, en «nuestra» lengua, con bastante ligereza de espíritu. [Sans beaucoup d'esprit] Ante sentencias semejantes, uno se queda con ganas de añadirle un signo de exclamación, procedimiento este muy latino, a mi título: ¡un poco de espíritu, diablos! (en un momento volveremos al diablo y al doble en el seno del Geist).
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  15. Veamos esta faceta de Heidegger ante el micro, o ante el Spiegel.



    Pienso en el particular e íntimo parentesco de la lengua alemana con la lengua de los griegos y con su pensamiento. Esto me lo confirman hoy una y otra vez los franceses. Cuando empiezan a pensar, hablan alemán; aseguran que no se las arreglan con su lengua.[lxiv]]
    1. Podemos imaginar la escena de estas confidencias, o más bien de esta «confirmación». Heidegger, por supuesto, no lo ha inventado: «los franceses» van a quejarse de su lengua al maestro y, como puede suponerse, lo hacen en la lengua del maestro. En el fondo, esta declaración tiene algo de verdad, parece incluso una perogrullada, si se acepta una axiomática fundamental según la cual el sentido de Geist, Denken, Sein y de algunas otras palabras, es intraducible y sólo se pueden pensar en alemán, incluso cuando uno es francés. ¿Se puede decir o pensar algo distinto en alemán? Aunque la seguridad dogmática, agravada por el tono descortés de una declaración propiamente invasora, tanto en lo que dice como en lo que demuestra, bastará para hacernos dudar de su autoridad. La insolencia descansa en una tautología y ni siquiera es provocativa. Fichte decía cosas parecidas, en nombre de la misma «lógica», en su Discurso a la nación alemana: aquel que piense y en consecuencia quiera la «espiritualidad» en su «libertad» y en su «progreso eterno», es alemán, es de los nuestros (ist unsers Geschlechts) no importa dónde haya nacido ni la lengua que hable. Inversamente, aquel que no piensa ni quiere dicha «espiritualidad», incluso si es alemán y parece hablar el alemán, incluso si posee la llamada competencia lingüística del alemán, es «no alemán y un extranjero para nosotros» (undeutsch und fremd für uns). Y sería preferible que se separara de nosotros totalmente
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    2. A seguir, Heidegger se pergunta pelo silêncio e quietude (Stille) e aponta que não é meramente a ausência de som ou movimento. O termo que ele introduz é Ruhe, repouso, e salienta que a dif-ferença deixa o "coisar"; das coisas repousarem no "mundear"; do mundo. Salienta que no repouso há mais movimento que em qualquer movimento. E, a seguir, diz que o soar (Lauten) é o que reúne e que esse soar é mais do que a propagação de uma onda sonora. Podemos pensar no soar do sino das vésperas do poema que, mesmo produzindo som, faz o silêncio soar de modo audível ao ponto de podermos escutá-lo.

      "A língua fala como o soar do silêncio [...] a língua, o soar do silêncio, é na medida em que ocorre a dif-ferença"; (Heidegger, 1971, p. 207). E mais adiante: "Esse soar do silêncio não é nada humano. Pelo contrário, o ser humano é falante. E falante significa aqui: levado à sua propriedade pelo falar da língua"; (Heidegger,1971, p. 208). "O ser humano é, assim, entregue à língua e tal apropriação torna-se propriedade na medida em que o sendo da fala – o som do silêncio – necessita e põe em uso a fala dos mortais para poder soar como o som do silêncio a seus ouvidos"; (Heidegger, 1971, p. 208).

      Heidegger, ao dizer que o soar do silêncio não é hum
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    3. ano, está afirmando também que a língua é algo totalmente estranho ao humano. Com isso, podemos supor que a língua é de fato um outro, uma alteridade radical. Mas, enquanto mortais somos algo linguístico (sprachlich), no sentido de sermos conduzidos ao que nos é próprio pelo falar da língua. O próprio humano é algo estranho devido a um estranho anterior, que é essa alteridade da própria língua à qual somos apropriados. Mas o que é a poesia? Ele diz:

      O que é invocado na fala dos mortais é o que é falado no poema. A poesia, propriamente dita, não é nunca meramente algo mais elevado do que a fala quotidiana. Pelo contrario, é antes a fala quotidiana um poema esquecido e esgotado pela usura, do qual mal se consegue ouvir um chamado. (Heidegger, 1971, p. 209)
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    4. Para terminar, nosso autor salienta que nossa relação com a língua é uma relação de escuta (Hören).

      Os mortais falam na medida em que escutam. Estão atentos à invocação do mandato do silêncio da dif-ferença, mesmo que não o conheçam. A escuta depreende-se da injunção da dif-ferença que conduz à sonoridade da palavra (lautende Wort). Este falar que escuta e aceita é responder (Ent-sprechen). (Heidegger, 1971, p. 209)
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    5. "O homem fala na medida em que responde à língua. Esse responder é um escutar. Ele ouve porque escuta a injunção do silêncio"; (Heidegger, 1971, p. 210). Aqui chegamos ao fim do texto e Heidegger propõe mais uma vez a leitura de "Uma Noite de Inverno";, de Gorg Trakl, pois é no poema que a língua fala. Terminado esse percurso, talvez possamos pensar a poesia (Dichten) como nosso pertencimento à língua e à sua escuta, abrindo-nos ao mistério do aberto.
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    6. visada que muda o que entendemos habitualmente por língua e pensar.
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    7. Enquanto analistas, temos muito em que nos inspirar nesses textos, pois vão na contramão de tudo o que caracteriza a nossa época. O próprio teorizar psicanalítico ainda procura fundamentar-se no âmbito da metafísica e da ciência, onde a linguagem é reduzida à objetividade da comunicação, o que para Heidegger é trágico, por impedir uma experiência fundamental com a palavra e a fala que surge do lado poético. Entre nós, num curso memorável sobre "Linguagem e Psicanálise";, P. Fédida tomou como base para suas considerações o livro de Heidegger A caminho da fala. Ele terminou esse curso falando a respeito da importância de os psicanalistas frequentarem os poetas.
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    8. Supongamos que esta interpretación del espíritu -aquello que reúne o en lo que la reunión se reúne- no sea efectivamente una proposición metafísica perdida en el poema. Todavía habrá que tomar en serio al menos dos evidencias. Por un lado, la formulación heideggeriana es la misma, ya se trate, diez años más tarde, del espíritu en la obra de Trakl que pretende también sustraer a la pneumatología o a la espiritualidad metafísica y cristiana, ya se trate, algunos años antes de estas lecciones sobre Hölderlin, del curso sobre Schelling (Tratado de 1809 sobre la esencia de la libertad humana). Este curso acentúa la esencia «unitaria» del espíritu que es «unidad originariamente unitaria» (ursprünglich einigende Einheit).[lxxv]

      A propósito de esta unidad, Heidegger escribe entonces: «En tanto que unidad el espíritu es pneèma» (Als solehe Einheit ist der Geist pneèma).

      ISSO É VOCÊ

      O grande dito dos Upanishads é : 'ISSO É VOCÊ''... ''ISSO'' é aqui, o Atman ou Espírito, o Espírito Santo, o pneuma grego, o ruh arábico, o ruah hebraico, o Amon egípicio, o ch'í chinês; o atman é a essência espiritual, indivisível ,seja transcendente ou imanente; e sejam quais forem as muitas direções em que possa estender-se ou retraír-se, é o MOTOR IMUTÁVEL seja em sentido intransitivo seja em sentido transitivo; se presta á todas as modalidades do ser embora Éle Mesmo jamais venha a ser alguém ou algo em especial (...) ISSO É VOCÊ, em outras palavras, o Brahman, o Deus em sentido geral de Logos ou Ser.

8 comentários:

  1. A CIENCIA NÃO PENSA. ELA NÃO SE MOVE NA DIMENSAO DA FILOSOFIA, MAS NECESSITA, DEPENDE DESTA COMO FUNDAMENTO, POIS SE ''EM SI'' ELA NAO EXPLICA ABSOLUTAMENTE NADA, TAMPOPOUCO É VÁLIDA A PRETENSÃO DE QUE A MESMA TEM CONDIÇÕES DE PENSAR SOBRE SEUS PROPPRIOS MÉTODOS

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  2. A ciencia moderna, esse no górdio existencial de nerds deslumbrados com os holofotes capengas e broxantes da midia americana e dos premios internacionais, só pode ser pensado ''filosofando''...

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  3. a insuficiencia do olho mundano para chegar àquilo que deve ser pensado

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  4. Não o tergiversar... mas um retorno originário ao conteúdo de nossa linguagem própria , mas constantemente ameaçada de morte

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  5. ''O PENSADOR QUE VEM SE DEPARA (''TALVEZ'''... AAAAAAAAAAAHAHAHAHAHAHAHAHAAA!!!!!!!!!!!!!!! COM O PENSAMENTO QUE EU TENTO PREPARAR''

    MARTIN hEIDEGGER

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  6. ''Me retiro ante algo que ainda nao existe, mas me inclino, mil anos antes, ante su espírito''

    Heinrich Von Kleist, citado por Heidegger na entrevista de 1964

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