quarta-feira, 25 de setembro de 2019

A REPÓRTER QUE QUERIA O IMPEACHMENT





Palavra, moça abstrata
Com o microfone, andando
Na paisagem como no exílio,
Neste reino de formas e volumes
Do jornal, em que a câmera te prende.

Razão alternativa aos fatos
Atualizada por minuto no diálogo
Que perpassa o não-gasto
Da euforia amotinada, que
Anula e distancia a existência
Da política, da economia,
da cultura e, livre do fungível,
da repercussão bloqueada em ti
No dia de teor calcáreo
Desvivido pela inanidade,
Sem furos.

O dia forma-se,
É verdade, de quase nada:
Sol que raia no arranha-céu
E lava da carne todo gesto
Equívoco que procuram
Na regra das conversas.

Sois no mínimo equipagem,
Moça, de cálculo e fantasia.
Carregados no embrulho do dia,
No campo magnético do comício.

No rebanho de ilhas que mugem
Na sarjeta dos carros de esgoto
E nos helicópteros de dinheiro,
Ratos astutos buscarão em vão
A perfeição dos teus seios nus.

Eu sim, já no primeiro clarão do dia
Soltarei meus nus sugados de noite
Sem rasura --- e no espelho da amplidão
Comida, que continua além,
Encontrarás (talvez)
Teu próprio rosto,
Mascarado como na tv, quase intacto.

Matheus Dulci, KM

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