sexta-feira, 6 de setembro de 2019

ODE EQUATORIAL, Lêdo Ivo






















4 comentários:

  1. Le Bateau ivre


    Comme je descendais des Fleuves impassibles,
    Je ne me sentis plus guidé par les haleurs :
    Des Peaux-Rouges criards les avaient pris pour cibles
    Les ayant cloués nus aux poteaux de couleurs.

    J'étais insoucieux de tous les équipages,
    Porteur de blés flamands ou de cotons anglais.
    Quand avec mes haleurs ont fini ces tapages
    Les Fleuves m'ont laissé descendre où je voulais.

    Dans les clapotements furieux des marées
    Moi l'autre hiver plus sourd que les cerveaux d'enfants,
    Je courus ! Et les Péninsules démarrées
    N'ont pas subi tohu-bohus plus triomphants.

    La tempête a béni mes éveils maritimes.
    Plus léger qu'un bouchon j'ai dansé sur les flots
    Qu'on appelle rouleurs éternels de victimes,
    Dix nuits, sans regretter l'oeil niais des falots !

    Plus douce qu'aux enfants la chair des pommes sures,
    L'eau verte pénétra ma coque de sapin
    Et des taches de vins bleus et des vomissures
    Me lava, dispersant gouvernail et grappin

    Et dès lors, je me suis baigné dans le Poème
    De la Mer, infusé d'astres, et lactescent,
    Dévorant les azurs verts ; où, flottaison blême
    Et ravie, un noyé pensif parfois descend ;

    Où, teignant tout à coup les bleuités, délires
    Et rythmes lents sous les rutilements du jour,
    Plus fortes que l'alcool, plus vastes que nos lyres,
    Fermentent les rousseurs amères de l'amour !



    ResponderExcluir
    Respostas
    1. O BARCO BÊBADO



      (Arthur Rimbaud)



      Como eu descia pelos rios impassíveis,

      senti-me libertar de meus rebocadores.

      Tomaram-nos por alvo os índios irascíveis

      e pregaram-nos nus aos postes multicores.



      Já não me preocupava a carga que eu trazia,

      fosse o trigo flamengo ou o algodão inglês.

      Quando dos homens se acabou a gritaria,

      pelos rios voguei, liberto de uma vez.



      Ante o irado ranger das marés, me lancei,

      mais surdo que infantis cabeças, no outro inverno,

      fugindo! E para trás penínsulas deixei

      que jamais viram tão glorioso desgoverno.







      Se desejo da Europa uma água, é a poça estreita,

      negra e fria, onde à luz de uma tarde violeta

      um menino agachado, entre tristezas, deita

      seu barquinho, a oscilar como uma borboleta.



      Imerso em languidez, não posso transcender

      o rastro, ó vagas, dos que levam algodões,

      nem dos pendões o orgulho e das velas vencer,

      nem já nadar sob o olho horrível dos pontões.



      (Tradução de Renato Suttana)

      Excluir
    2. A procela abençoou meu despertar marinho,

      dancei como cortiça entre vagas e atóis,

      que fazem vítimas no eterno redemoinho,

      dez noites, sem pensar no olho vão dos faróis.



      Doce como a maçã na boca de um menino,

      meu lenho se encharcou do verde turbilhão,

      que um caos de vômito e de vinho purpurino

      lavou, e destroçou meu leme e meu arpão.



      E mergulhei então no Poema do Mar,

      todo de astros mesclado, e leitoso, a beber

      os azuis verdes, onde, a flutuar e a sonhar

      um absorto afogado às vezes vai descer;



      onde, a tingir de um golpe o azul, à luz safira

      dos dias, ritmos arrastados e delírios,

      mais fortes que a embriaguez e mais vastos que a lira,

      fermentarão do amor os amargos martírios.



      Sei os céus a estalar de clarões, sei as trombas,

      correntes e monções: e sei o anoitecer,

      a exultante manhã qual um povo de pombas,

      e vi por vezes o que o homem julgou ver.



      Vi o sol-pôr manchado a místicos horrores,

      iluminando longas urnas arroxeadas;

      como dos mais antigos dramas os atores,

      as ondas a rolar à distância, encrespadas.



      Sonhei a noite verde entre neves radiosas

      dar aos olhos do mar mil beijos hesitantes;

      vi a circulação de seivas misteriosas

      e o áureo-azul despertar dos fósforos cantantes.



      Longos meses segui, tal como vacarias

      histéricas, o ardor das ondas contra a areia;

      sem suspeitar que os pés brilhantes das Marias

      pudesse apaziguar o Oceano que se alteia.



      Atingi, sabei vós, Flóridas escondidas,

      os olhos da pantera ajuntando às floradas,

      com pele humana. E tenso o arco-íris, como bridas,

      no horizonte do mar, quais alegres manadas.



      Vi fermentar pauis enormes e lameiros,

      onde apodrece um Leviatã entre os juncais;

      e entre bonanças desabar furiosos aguaceiros,

      despencando o longínquo em golfos abismais!



      Gelos, argênteos sóis, ondas, céus abrasantes!

      Encalhes colossais nos mais fundos negrumes,

      onde o piolho come as serpentes gigantes

      que tombam da galhada entre negros perfumes.



      Desejara mostrar às crianças as douradas

      da onda azul, peixes de ouro, esses peixes cantantes

      – a espuma toda em flor ninou minhas jornadas

      e um inefável vento alou-me por instantes.



      Das zonas e do pólo, às vezes, mártir exausto,

      o mar, cujo soluço as fugas me adoçava,

      dava-me flores de ouro e de sombrio fausto,

      e eu, como uma mulher de joelhos, descansava.



      Quase ilha, a balançar gritando às minhas bordas
      rixas e estrumes de aves de olhos afogueados;

      eu ia, enquanto pelas minhas tênues cordas

      desciam, recuando, ao sono os afogados.



      Eu, barco naufragado entre as marinhas tranças

      pelos tufões aos ermos do éter arrojado,

      cujo casco ébrio de água os veleiros das Hansas

      e os Monitores não teriam resgatado;



      livre, a fumar, envolto em brumas violetas,

      que perfurava o céu vermelho como um muro,

      que traz – confeitos deliciosos aos bons poetas –

      liquens do sol e cusparadas do azul-escuro;



      prancha louca, a correr entre uma escolta preta

      de hipocampos, rajada a estrias resplendentes,

      quando julho esboroava a golpes de marreta

      do céu ultramarino os funis comburentes;



      eu, que tremia, ouvindo a distante agonia

      do cio dos Behemots e dos Maelstroms estreitos,

      eterno tecelão da azul monotonia,

      lamento a Europa dos antigos parapeitos!



      Arquipélagos vi do firmamento! e as ilhas

      onde em delírio os céus se abrem ao viajor,

      é nessas noites que tu dormes e te exilas,

      ó milhão de aves de ouro, ó futuro Vigor? –



      Mas, não, chorei demais! Magoam-me as auroras.

      Todo sol é dolente e amargo todo luar.

      O acre amor me fartou de torpores, demoras.

      Oh, que meu casco estale! Oh, que eu me lance ao mar!

      Excluir
  2. Je sais les cieux crevant en éclairs, et les trombes
    Et les ressacs et les courants : Je sais le soir,
    L'aube exaltée ainsi qu'un peuple de colombes,
    Et j'ai vu quelque fois ce que l'homme a cru voir !

    J'ai vu le soleil bas, taché d'horreurs mystiques,
    Illuminant de longs figements violets,
    Pareils à des acteurs de drames très-antiques
    Les flots roulant au loin leurs frissons de volets !

    J'ai rêvé la nuit verte aux neiges éblouies,
    Baiser montant aux yeux des mers avec lenteurs,
    La circulation des sèves inouïes,
    Et l'éveil jaune et bleu des phosphores chanteurs !

    J'ai suivi, des mois pleins, pareille aux vacheries
    Hystériques, la houle à l'assaut des récifs,
    Sans songer que les pieds lumineux des Maries
    Pussent forcer le mufle aux Océans poussifs !

    J'ai heurté, savez-vous, d'incroyables Florides
    Mêlant aux fleurs des yeux de panthères à peaux
    D'hommes ! Des arcs-en-ciel tendus comme des brides
    Sous l'horizon des mers, à de glauques troupeaux !

    J'ai vu fermenter les marais énormes, nasses
    Où pourrit dans les joncs tout un Léviathan !
    Des écroulement d'eau au milieu des bonaces,
    Et les lointains vers les gouffres cataractant !

    Glaciers, soleils d'argent, flots nacreux, cieux de braises !
    Échouages hideux au fond des golfes bruns
    Où les serpents géants dévorés de punaises
    Choient, des arbres tordus, avec de noirs parfums !

    J'aurais voulu montrer aux enfants ces dorades
    Du flot bleu, ces poissons d'or, ces poissons chantants.
    - Des écumes de fleurs ont bercé mes dérades
    Et d'ineffables vents m'ont ailé par instants.

    Parfois, martyr lassé des pôles et des zones,
    La mer dont le sanglot faisait mon roulis doux
    Montait vers moi ses fleurs d'ombre aux ventouses jaunes
    Et je restais, ainsi qu'une femme à genoux...

    Presque île, balottant sur mes bords les querelles
    Et les fientes d'oiseaux clabaudeurs aux yeux blonds
    Et je voguais, lorsqu'à travers mes liens frêles
    Des noyés descendaient dormir, à reculons !

    Or moi, bateau perdu sous les cheveux des anses,
    Jeté par l'ouragan dans l'éther sans oiseau,
    Moi dont les Monitors et les voiliers des Hanses
    N'auraient pas repêché la carcasse ivre d'eau ;

    Libre, fumant, monté de brumes violettes,
    Moi qui trouais le ciel rougeoyant comme un mur
    Qui porte, confiture exquise aux bons poètes,
    Des lichens de soleil et des morves d'azur,

    Qui courais, taché de lunules électriques,
    Planche folle, escorté des hippocampes noirs,
    Quand les juillets faisaient crouler à coups de triques
    Les cieux ultramarins aux ardents entonnoirs ;

    Moi qui tremblais, sentant geindre à cinquante lieues
    Le rut des Béhémots et les Maelstroms épais,
    Fileur éternel des immobilités bleues,
    Je regrette l'Europe aux anciens parapets !

    J'ai vu des archipels sidéraux ! et des îles
    Dont les cieux délirants sont ouverts au vogueur :
    - Est-ce en ces nuits sans fond que tu dors et t'exiles,
    Million d'oiseaux d'or, ô future Vigueur ? -

    Mais, vrai, j'ai trop pleuré ! Les Aubes sont navrantes.
    Toute lune est atroce et tout soleil amer :
    L'âcre amour m'a gonflé de torpeurs enivrantes.
    Ô que ma quille éclate ! Ô que j'aille à la mer !

    Si je désire une eau d'Europe, c'est la flache
    Noire et froide où vers le crépuscule embaumé
    Un enfant accroupi plein de tristesses, lâche
    Un bateau frêle comme un papillon de mai.

    Je ne puis plus, baigné de vos langueurs, ô lames,
    Enlever leur sillage aux porteurs de cotons,
    Ni traverser l'orgueil des drapeaux et des flammes,
    Ni nager sous les yeux horribles des pontons.

    ResponderExcluir