terça-feira, 10 de setembro de 2019

HONRAS AGRAVANTES


 A sombra enrijece-se num canto,
rindo: seu osso gela ao pé dos túmulos
enquanto seu bom humor de adubo
forra de vida uma rosa falsa, que hipnotiza.

Certamente assim se cria um súcubo:
e o Cavalo de Tróia lhe prega um susto,
levando água a sedes menores que a sua.
A água azeda, vagando na luz da tv...

‘’Morre-se mais relaxado a sós, do que com você,
pensa-se
alçando o próprio espectro à bruxaria
(a descarga elétrica, a jato, banha os olhos,
porque o Mal poliniza o ar do mundo
toureando o limbo das próprias vísceras
num despertar sanguíneo para as imagens).

‘’E quanto humor negro não cabe
aff , no forjar o delírio na certeza,
mestra do querer, da possibilidade
além das possibilidades (e da culpa?)
em cada imagem da vontade.

‘’E quantas versões de quereres ambíguos,
e ações arguindo passos, na cilada final da meditação?
A burla impondo à fé um ritual secreto
(fluidos misturados criteriosamente
aos reagentes do processo):

--- Querer a ocasião propícia, o sucesso,
e de resto, como faço?! --- porque os bancos
querem-me em pânico ‘’diante de’’
tanta liberdade? ICE KISS MAÇÔNICO!

Tenebroso vegetar sonâmbulo
jogando com seus satélites, aquém da LUZ.
A Recapitulação percorre o sono
através da respiração, organiza e reabre
o mundo para o encontro com o Nagual.

Em troca da caneta, revogo
meu próprio abandono,
anoitecendo minha fala
(a fala pouco importa aqui)
nos ouvidos dela: na Luz Astral
chovendo no molhado, o Ob
corre turbulento, nadando comigo.
E devo admitir nas guelras
os beijos gelados do ofício
que engatilha a mente.
No gesto extremo da testa,
o zoom de um aceno sob
mira rúptil, feroz, afronta
o olho, que a poesia desmesura,
ao longe, esquecida de todo perigo.


E da lixeira saem versos
desavergonhados, exigindo
metro, dente e hálito de gargalhada,
goela que sacoleja a notícia da noite
e alcança a dimensão de lixo ao luar.

Misteriosamente, o poeta perambula,
ensinando insone às mulheres
a murmurar seu nome, seu escuro eu,
no escuro.

A Ásia inteira
espreita essa noite
EM MEUS DENTES
(digo-lhes)
advogando às pressas
pontos de Carmas
e Fiscos esfomeados,
e sobrevivendo à moléstia
de suas palavras indecidíveis,
seus cimos e abismos ---

Encerro fechando-me em saldos de usura
com meus punhos de propostas
engavetadas, meus silêncios
de confiança sem respostas
e tantíssimas honras agravantes
tornando tensa e muscular
a conversa.


MATHEUS DULCI, KM 


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