Tudo o
que não ouso dizer
está aí,
no meu rosto vazio,
à luz do
nada da tarde brilhando
nos meus
olhos de navio partindo.
Paisagens
dentro de paisagens,
eis-me aqui,
glória de aeródromos
e
labirintos de lenda urbana,
junto à
arranha-céus tonteando
cardápios
e latas de lixo
de um
restaurante oceânico
Atrás da
tarde, a semente
noturna, universal
da ronda
ofídia
nasce, imposta por toda
a
exatidão do panorama.
Círculo
do Eterno Retorno
no Universo
pintado, sono
do tempo
alongando e
encurtando
a duração
dos
elementos visuais
entrecruzados
com choque.
Entre a pista
de dança e
o quarto
de dormir,
dançam
alternativas de
atuação,
golpes, botes.
Ouço o
rumor ofídio
dos trópricos
resvalando
minhas
pálpebras
(luz do
início do sonho)
na sonolência-fonte
da
claridade da noite.
A
substância infiltrada.
O
veneno do simulacro na ponte.
Navio.
Sopro. Exegese.
Verso
interpretado disperso
no espanto
que emudece.
Um
demônio de linguagem
adentra
todas as vagabundagens,
piqueniques,
colóquios, con-
versa também
temas domésticos,
flertes
desenvoltos, danças e esportes
sonham
renascer purificados na fala,
exaltações
tranquilizadoras do cotidiano,
mas
morrem na respiração da noite
fitando
na jaula do sono a própria fissura.
A
armadilha do hotel agora
resvala
para o rio, uma força
precisa
arrastar a linguagem
para o
mal, rica rima na
vacaria
perturbada pelo cio.
E
depois disso, aumenta
ainda mais
o volume do discurso,
de
tático à fantasmagórico
até que
todo o transporte do patético
perca
o rosto nele, e ploc,
a cena
retorne ao demônio
informulável
entre coqueiros,
sobressalto
do demônio anterior,
cujos
argumentos remoçam rindo
toda a
investida no longínquo
tele-transportando-se
sem
escrúpulo
nenhum, daqui prali.
Rompe
o escuro! Vai-te, Demônio,
no teu
Vão, forma medonha de sonho
raiando
na bruma errante, solícita
do
mundo abrutalhado. Lua astral,
forte
como um espelho. Grito somente
não
és! Nem apenas desenho.
Ao
mundo apraz, espírito maligno,
gulodices
de paisagens naveguentas
sumidas
na tocaia dos instantes ---
hora
pura que rebenta
tudo o
que com ela se faz ---
pausa
pura do pulso
fluindo
errático para o nada,
sono
de península à esmo,
como
no passeio do vampiro
pelo
litoral cúmplice da amplidão
e da potência
do sonho, seu paraíso
de
infernos dosados, teluricamente.
Matheus Dulci, KM
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