LEITURA
EMBRUXADA
Entregue
às palavras
na
curva da noite,
oferta
de leitura ao mistério
e
desdém hierático
pelo
mundo? E esses
ciúmes
sapientes?
entre
amores, autores e essências
o
anoitecimento da alma
pressentido
entre queixumes,
entre
beijo e boca se evaporando.
Fixando
as coisas que respiram,
seus
interiores contestatórios
apareciam
como fio central
e sem
nome da suspeita,
zombando
dos versos
e sua
fissura por mulheres
que
esfriam discursos.
---
Aqui é o tempo do dizível, nossa pátria ---
eu
dizia
---
onde perecem as coisas vivíveis,
a
chama de um doce limbo,
astúcia
e coisas ao alcance
dentro
do olhar, KAMA-MÍDIA ----
dados
econômicos mistos de todo o mundo aumentaram as esperanças de mais estímulos
dos bancos centrais para impedir uma recessão global.
Vaga
pestana de olho fixo
fixando
as coisas sem filtro,
sem
mestre, na abertura do mundo
insinuando-se
sem densidade,
pelas
gretas das jaulas de pele;
KAMA
continua ecoando.
Respira
surdamente no mundo,
com
seus interesses de drama
e de
mercado --- uma rua,
um
olho -- clama o escravo cognitivo,
mas
sem o brilho da luta de classes,
some
sem antídoto no escuro
do
mundo sem nome, que se diverte
apenas
fumando ou correndo
através
de suas leituras.
Farol
tímido, restrito ao olhar?
Compreensão
e pedidos da Bruna:
no seu
longo túnel de risos
alguma
dialética negativa
atravessando
o pescoço
e
vindo grudar-se como musgo
nos
objetos voadores do ego
--- no
ar, ao vivo! --- entrando e
saindo
do tempo, segundo rápidas
crispações
de afeto mascarado,
etiquetados
em tudo quanto
àquele
''humanero'' superfaturado,
pó de
todas as coisas televisionadas.
Veio
de mofa anti-conceitual?
Fingindo
bem a todo poderosa
PALAVRA
de autoridade indeterminada,
entre
o tudo e o nada, no ENTRE
DA
SUSPEITA, suspenso
nos
limbos de gargantas dos livros,
buscando
a coisa selvagem informulada
----
Aleph sub-júdice, comentário
do
comentário místico... forçado? ---
enquanto
''mercadorias espreitam-me'' e
''o
tempo ainda é de fezes'' e o
''mesmo
impasse'' persiste ad nauseam.
Não é,
minha Flor? Ler Le Nausee
e
explicar-lhe o nada foi fácil,
mas
sob a pele das palavras
era
minha própria náusea,
sem
poema nem filosofia,
e
considerada sem ênfase,
quem
afastava Sartre do assunto.
Os
jornais seguiam ruminando
suas
esperanças miúdas
em
meio a um rio de negociações,
totalmente
cúmplices
do
Esquecimento do Ser
com
sua política de políca publicitária.
E
enquanto sequer se colocava
a
pergunta do poeta pelo Ser,
o poeta
lia-O, exercitava-se e banhava-se
nas
águas de leitura do Ser,
meditando
em catacumba heideggeriana
um
futuro menos horroroso para seu estupor.
Livro.
Nome. Advertência de poema exposto:
rizomaticamente
ativo, e com os jornais
no
lugar correto, o apontamento-grifo
embruxava
totalmente a leitura.
Arquiescritura
da mente,
num
anoitecimento sonâmbulo
da
linguagem e da imagem do mundo
que
crispa o Mercado e suas interrogações.
Deriva
impregnada de ermos da lua,
sem
delicadeza, sem agasalho, sem
cigarros,
tossindo entre prédios ---
frio
central vadeado, um rio na
fome
de traição da Natureza,
no seu
célebre riso de chuva
e
vento nas estradas, e nos
receios
de ajuda dos homens,
suas
suspeitas lentidões de láudano
em
momentos de pose de estátuas,
suas
sábias consultas, suspeitas
de
olhos acesos recuando
''daquelas
posições'',
tão
sabidamente defendidas.
UMA RETIFICAÇÃO DE ESTILO
Uma
retificação do estilo, pois a linha política é primordial. A China estava
começando a ficar repleta de fábricas ociosas, blocos de apartamentos vazios
formando bairros fantasmas, estações de energias desativadas e outras obras de
infraestrutura de quem ninguém mais precisava. Mas o governo parecia estar
financiando ainda mais projetos dispendiosos.
Os investidores experientes da China estão nervosos. Até mesmo uma
desvalorização drástica do yuan agora parece uma trombeta do Apocalipse. Eles
não sabem o que estão fazendo. Ninguém sabe o que eles estão fazendo. E,
principalmente, ninguém sabe o que fazer . Então: a filigrana encobrindo o
gótico com um toque de retórica maoista no todo. ''IN HOC SIGNO VINCIS '', li
isso num dos maços de cigarros que Gisele estava distribuindo: ''COM ESTE SINAL
VENCEREMOS''. Eu estava confiante demais no meu próprio taco, mas as pesquisas
eleitorais americanas eram esquizofrênicas. E minhas palavras já não eram
palavras, mas cheiro de gasolina
militar: metade do meu discurso estava rascunhado na contra-capa de um livro
sobre armamento soviético da época da Segunda Guerra Mundial, inadequado como
se eu estivesse oferecendo conselhos à Aníbal: ''O tanque T-34 foi a salvação
das Potências Aliadas (escrevi ali) Em Kusk eles derrubaram até os Porsches
Elephants. E vocês não fazem idéia do que fizeram com o Quarto Exército Panzer.
O general Koniev destroçou os tanques Tiger que os alemães tinham e seus
Panthers usando o T-34. A cada marca
deixada pelos T-34, Koniev desenvolvia uma teoria nova, mais inteligente, mais
empolgante e mais fodida das idéias. O T-34 permanecia um tema constante nos
seus boletins de guerra. Seu sorriso cínico e monomaníaco tinha o ar do sorriso
da morte. Un sorriso malizioso !
Presbitericida. Audax. Libidinosus. Proditor. Raptor. Incendiarius. A verdade é que, no duro, no duro, ele tinha
um ''loop de feedback ' na cabeça que fazia com que aumentasse os ataques em
vez de dosá-los. Parecia um mito grego. ----- O termo técnico teológico (não
psiquiátrico) para isso é ''teofania ''. Não consiste em algo que aquele que
percebe Deus faz. Consiste em algo que a Divindade faz. Moisés não criou a
Sarça Ardente. Elias, no Monte Horeb, não gerou aquela voz que murmurava
baixinho. Então, qual a diferença entre uma teofania e uma alucinação da parte
percipiente (?) -----, Gisele indagou-me. ----- É a memória filogenética,
enterrada na mente humana. Mas o tempo do homem atual está mal -ajustado para
tanta ''novitá''. Confúcio queria voltar aos Ritos para restaurar o Paraíso
Perdido da memória filogenética. O ''deus absconditus'', oculto e secreto. No
Fragmento 54, Heráclito diz que ''a estrutura latente é Senhora da estrutura
óbvia''. A Matéria é plástica em face da Mente. Baratinado e suando barba
adentro, o tempo pode ser superado. Quando meus esforços retóricos atingirem o
nível máximo de toxicidade, ouvirei estranhos estalos dentro da cabeça, como
alguma coisa sobrecarregada: ''de litteris er de armis, praestantibusque
ingenis ''; tanto dos tempos antigos , como do nosso: em suma, os assuntos
comuns de conversa entre homens inteligentes. Objetos de linguagem empurrados
até o ponto onde explodiam na ópera nunca escrita de Wagner sobre o Buda, que
se chamaria (Die Sieger) Os Vencedores. Mircea Eliade diz que é possível
penetrarmos no tempo dos heróis e seus feitos como se penetra numa festa para a
qual não fomos convidados. E encontrar o Deus vivo ali tornará nossa DOXA muito
forte, por meio das marcas de certos arquétipos. Pensamento vivo. Consciência
política. Endividamento chinês. Aptidão analítica extraída dos interstícios do
tecido esteriotipado das convenções discursivas. Ontem mesmo me perguntaram se
eu já tinha lido Hegel: ora, um mestre categórico, um tanto mecanicista,
enjoativo, mas um bocadinho de auto-suficiência nacional mergulhada em
problemas neuróticos. As leitoras mais sensíveis terão de suportar qualquer
brincadeira razoável que eu faça com elas. E poderão devolver a brincadeira
desde que não exagerem. O IMPÉRIO NUNCA TERMINOU (!)
ECONOMÍMESIS
Os
passos, amados ou odiados,
se
calaram para desfilar na luz
apenas
suas mais recônditas sombras.
Um
aceno com a mão, de longe,
na
penumbra do camarote, emudecia
o
paraíso prometido com um riso de desdém.
Passados
alguns dias, a Musa inconsciente
não se
convertera em nada de valor.
Não
passava agora de poeira nos dentes,
controle
da máquina de outras namoradas
que
apressavam na garganta a veloz golfada.
Eu
havia renunciado à tudo, coando
café
em horas estranhas, na casa que me
imobilizara,
imobiliarizando-me.
Trocara
a pior escolha pela falta de escolha,
escrevendo
a palavra NÓS obliquamente,
para
poupar minha poesia das minhas cartas,
que agora
se liam em todas as cidades,
e de
repente eu era o milagre adiado
da
Poesia, Fenômeno ET Trans-teológico
infiltrado
na Linguagem, orvalhando
petulantemente,
sorrindo roteiros educado s
e conformado num nicho conceitual estável
--- à
caminho dos shows de tv? Neste exercício!
‘’Politicamente’’,
diziam, ‘’suspeita-se de sua poesia
por causa
de sua casa, da sanha de vazio cósmico
que
parte de sua casa, poeta’’.
E
havia força na declaração: minha poesia
era um
retrato farto de sua fortaleza,
armada
de frios riscos e sustos.
Eu dividira-me
em tantos cursos diferentes
que os
que me liam agora eram só, talvez,
variações
de mim, que me aplaudiam
por só
abaixar a cabeça (que pirraça!)
para
amarrar os sapatos, ou abrir a caixa
de anfetaminas
loucas das desgraças.
O mais
puro exercício
do
espírito-frila, armado
de
linhas de frio e susto
entre
tantos outros riscos.
Com
caneta empesteada
no
papel, essa peripécia
do
pensamento estala as
molas
de sua catraca, e
não
retorna atarraxado
da
própria duração de faquir...
A Mão
Sinistra, essa mescla
energética
de corpo e letra,
mantém
na cerimônia
certa
intimidade de
Sombra
alastrada,
presidindo
a Solitária vetorial
de
todos os ioiôs do Ibope
entre
a mutação dos riscos
e as
sobremesas do Não-Ser,
com a
caneta inserida no
corpo
vedado da anti-matéria.
Ali,
os veios que assinam o
Outro-Eu,
dentro da conversa
muda
do Poeta consigo mesmo,
surpreendem
na parede outra Sombra
(aquela
silhueta que se deixou
extrair
da dentadura estetoscópica,
como
se diz: a Sombra mimética,
ártica
e insubmissa da Não-Ação).
E a
Música? Vem desembainhando
O poema
ácido, suado de medo.
Poema
mareado, fechado e enluarado,
Sem,
no entanto, morrer de sua
Própria
repercussão solo --- o poema
Atravessa
o dia, sentindo que sua retina
Testa o
ultimato do espelho
A cada
minuto, refletindo pancadas
Do que
resta atingido, parado, correndo
Para dentro,
através de estalos descuidados
Da cabeça.
Contra Deus, lapso vertiginoso.
O poema
se antecipa ao Evento, e se torna
O
Poema, contra Deus e as bem comportadas
Maneiras
corrompidas. Claro: custas processuais
Nascem
desta nudez sem cerimônia, e certo
‘’chamamento’’’
à leitura grudenta
Que cospe
sua baba no escuro ---
Indevido
onanismo da meditação.
A
partir da nuca, entreabrindo
Um belo
banho adulto, de olhar fixo
Nas estrelas,
a auto-aceleração seca
O Poema
de todo nojo, e lavado,
Limpo e
enxuto, seu novo uso
Se apressa
contra a Espera.
Deus,
dentro de uma cabeça
De rascunho,
cozido por dentro.
Dura
medida de Teofagia
Pela mão
do Poeta, rigoroso
Em sua
postura de indefinição.
Acenos
graves do Poeta sem jeito,
Sem chance
para arrepios.
Nirvana
é seiva suada no escuro.
CONSULTEM XENÓFANES DE COLOTÃO!
Gisele acusava minha linguística de não ser
saussuriana. Espaço de manobra e velocidade para realizar acordos de qualquer
natureza, mas com um parceiro de cada vez. Perfil de nação-comerciante mais
pronunciado e ágil. Certamente o vácuo andara espreitando minhas palavras, mas
aquele era um vácuo vivo. O amor daquele vácuo não tinha fronteiras, ao
contrário do que se dizia. Apenas percorria o mundo por outras vias, fora dos
relatórios sobre investimento global da UNCTAD e da OMC. Flutuando para sempre
nos topóis republicanos, contra o lodo cheio de migalhas democratas
assistencialistas e suas marcas de erosão. O Di Yin republicano contra a
imundície cheia de bajuladores dos democratas. Corruptio, foetor, fungos. O
Grande Yôgui Republicano apresentava agora seu canto sentimental ritmado,
turvando o texto adversário com filologia nietzscheana. Os laudatores temporis
aet a comentar que a bosta assistencialista já fôra mais escura e fértil, mas
lamentando a petrificação eleitoreira da putrefação por uma nova carga de bosta
cortada em losangos.... -----, páro de falar e olho para o meu chá: as folhas
verdes se abriram bastante e formaram toda uma espessura no fundo da xícara. Di
Yin... o assistencialismo cria um contexto de precarização salarial e extrema
desigualdade para que o eleitorado torne-se dependente das políticas públicas
que seguram os votos na Prisão de Ferro Negro. Couro de cortiço e aduladores
numa grande rocha publicitária queixando-se de insuficiente atenção dos donos
de notícias... Et Nulla Fidentia Inter eas. ------ Sugiro que vocês consultem
Xenófanes (continuei: o Todo dele vê; o Todo dele pensa; o Todo dele ouve. O
imóvel, viril, paralítico Purusha. Logo ,as pessoas estão iludidas (.)
------não apenas louco, mas totalmente louco. E eu não estou falando de uma
Mente que dirige o Universo. Estou falando de uma Mente como aquela que
Xenófanes de Colofão concebeu: não apenas louca, mas totalmente louca. Os
gnósticos acreditavam que a Divindade Criadora era louca assim. Sobre a Origem
do Mundo, de Orval Wintermute, tradutor dos códices da biblioteca de Nag
Hammadi. Leia. O potinho Oh Ho. Procure saber dele. Então, fixei meus olhos no
horizonte. Óleo mesclando-se à fuligem. A platéia aguardava. Quando Gisele
operava no modo ''filha da puta'' começava a me interromper para falar de amor,
gratidão eleitoral, direitos coletivos e programas assistencialistas, tudo que
apequena uma nação. O Inferno se alimenta apenas de ''motivos elevados''.
------ Só me diga porquê , Gisele (?) -----, eu lhe perguntava. Ao que
ela me respondia sem emoção: ----- Meus objetivos não podem ser
conhecidos, ó homem (.) -----, as máscaras, no entanto, iam caindo como
confetes, e a insídia dos motivos ulteriores se revelava. Era uma coisa feia de se ver: à velocidade da
luz, eu carregava o hemisfério direito do meu cérebro com uma quantidade
titânica de gráficos demonstrando que a economia mundial estava mergulhada numa
corrida protecionista inédita na história, e que a nação ficaria para trás no
caso de mais uma década democrata. Gisele presumia serem aqueles gráficos lixo
descartado, destroços nos quais mais ninguém reparava. Mas, espreitando, o Deus
vivo emboscava a realidade por todos os lados e Gisele junto. Sim (eu berrava
da tribuna) Jesus havia morrido para salvar os homens e as pessoas que não
acreditavam nisso não sabiam o que estava rolando no mundo. O Universo inteiro
estava mergulhado no processo invisível de se transformar no Senhor. Na
Transubstanciação.
CRISE
DE LEGIBILIDADE
As
informações enfiadas na cabeça do povo em ondas sucessivas tinham uma origem
sagrada em lugares-comuns escolhidos a dedo (topói e clichês divinos, análogos
aos sub-programas que a cibernética chama de blocos). O Universo havia começado
a falar com o povo, e este começara a tirar alguns sentidos do inescrutável.
Desertos de Vasta Eternidade: o Logos. Arranjos e rearranjos: vemos os objetos
do mundo físico como movimentos, mas não conseguimos ler seus padrões de
disposição, ou extrair as informações dentro deles. Deveríamos ouvir essas
informações como uma voz neutra dentro de nós. Mas nós nos tornamos idiotas com
meia jornada inteiramente dedicada à política: não conseguimos lê-la por fora
nem ouvi-la por dentro.
Matheus Dulci
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