Há qualquer coisa de essencial na precaução contra a DOXA que domina, na época atual, toda a formulação das ''perguntas''. Essa precaução é certamente uma forma de crítica permanente, que necessita analisa-la antes, para só depois desclassifica-la. E o que vem depois (esta vez subrayo “después”) ? Vem em primeiro lugar, uma configuração mais visível de algo que insisitia em subtrair-se, para reinar holograficamente, e uma certa opinião filosófica, seguida de uma atitude de clareza, visível no comportamento. Uma tal precaução é chave, de fato, para a superação pelo pensamento dos ''discursos identificáveis'' que nos oprimem e privam da visão direta da realidade. Essa não é sequer uma noção confusa de autonomia, nem, muito menos, uma grosseira mescla de ''estratégias discursivas'' buscando liquidar a DOXA em favor de algo que ela combate como versão apócrifa de si mesma, querendo tomar o seu lugar. Seja sobre finanças, bandidagem, terrorismo, criminalidade civil ou política, a DOXA quer liquidar todas as perspectivas em que ela não seja a ''polícia'', a ''lei''. E não se fala de liquidação política aqui, em ato, a não ser em termos de lei e análise, pretensões mais escatológicas da DOXA. Esse aberrante diagnóstico de ''liquidação'' , constatado facilmente, denuncia logo de cara uma grande ilusão e um erro primário da DOXA: Decidiu-se ''liquidar'', acreditou-se ''poder fazê-lo impunemente'', arrogando-se ares de ''lei e ordem'', mas nós não deixaremos que o façam. O diagnóstico da precaução implica, pois, uma promessa: nós vamos fazer justiça, vamos salvar ou reabilitar o sujeito, toda a filosofia do sujeito, para que ele programe, ao invés de ''ser programado''. Consigna-se, pois: retorno ao próprio do sujeito. E seja dito por elipse: está-se essencialmente diante da lei, mas não da lei da DOXA, que pretende liquidar e o pretende faze-lo como lei, confundindo-nos com alguns nomes próprios tais como se fossem ''indícios''. --- Mas ''indícios'' de quê? ---, pergunta-se, perplexo. ---- ''Indícios de sua própria lei. A DOXA!'' --- algo totalmente sem função de lei, empenhada em reduzir toda e qualquer experiência à --- si la hay ---experiência de sua própria lei. Mas deixemos isso de lado!
Exemplos da confusão que se prepara nas alcovas da ''Liquidação''.
KM
*
Busca-se desacreditar o sujeito, não reconhecendo-lhe sua instancia irredutível de sujeito, e obrigando-o a curvar-se ante uma ''ideologia comportamental'', de natureza política e eleitoreira. Ideologia essa tão irredutível quanto a ilusão deste lugar constituído tão somente pela ''interpelação do sujeito'', por su ser-interpelado y contrangido (el sujeto como sujetado a la ley y responsable ante ella) a exercer seu direito de resposta conforme as marcações da DOXA, de seu ''desenvolvimento gradual'' no ETC infinito da fugacidade completamente devastada. Eis que toda a história da subjetividade humana, encurralada por massivas borraduras de meias-verdades, reduz-se agora à liquidar o sujeito, varrer seus ''poderes de auto-justificação'' do espectro da democracia contrariada.
E em sua última fase, ali outra vez, retorno da moral e de um certo resíduo de sujeito ético , absolutamente fantasmagórico, saído da DOXA para operacionaliza-la ''contra''. Para certos pensamentos que temos privilegiado nos ultimos tempos, o sujeito cai reinterpretado, re-situado, reinscrito sob o signo da devassa revanchista e sem fundamento, para certamente ser liquidado depois.
O desenvolvimento muito sumário que arrisco aqui responde rapidamente à tudo aquilo que pode ter de sumário na DOXA, de vício processual, de imoralidade política blasfematória, se não nos damos ao trabalho de analisar tudo de muito perto, de forma diferencial, tais estratégias discursivas da DOXA, todos esses tratamentos suspeitos do sujeito, por parte das fantasmagorias da DOXA POLÍTICO-MIDIÁTICA.
Poderia inclusive tomar alguns exemplos recentes da oposição, para provar como os papéis encontram-se invertidos. Mas deixemos isso de lado!
O efeito dóxico consiste em dizer apenas ISSO: ''TODOS ESSES SENHORES CREEM TER AGORA O SUJEITO SOB CONTROLE. LOGO, ELE SERÁ INTERPELADO, RE-SITUADO, ''REINSCRITO'' NUMA SUPERFÍCIE DESLIZANTE DE REGISTROS POLÍTICO-MIDIÁTICOS, PARA CERTAMENTE SER LIQUIDADO DEPOIS, COM REQUINTES DE SENSACIONALISMO.
KM
*
Não vejo esse escorar-se em nomes senão como um enorme potencial de mal entendidos propositais. Mas além dos nomes, querem algo assim como um lugar de passo, de fritura cujas emissões captam murmúrios e os separam por ordem de utilidade pessoal. Tal lugar, ¿cómo nomea-lo? La pregunta “¿quién?” parece conservar algo do sujeito, da merecida atenção à ''forma'', mas tal vez diga pouco a respeito da desmedida das pretensões em jogo.
—¿Podrías precisar eso?
Sim, mas mais tarde. Isso pode esperar. Supus há pouco, ingenuamente, que deveríamos evitar falar ou mencionar o sujeito, como haviamos feito ou como faremos, se nos for solicitado (e apenas neste caso). Sim, é uma situação idiota.
Além do mais, poderão meter (mettre) em cena o sujeito, sumeter (soumettre) em cena ao sujeito em sua subjetividade distorcida pela DOXA, como o idiota mesmo ( o inocente, o próprio, o virginal, o originário, o nativo, o ingênuo, o grande principiante), sem torná-lo, ao mesmo tempo, tão auto-erigido, tão autônomo, convincente e seguro quanto submetido, caso o aparato de dublê midiático da lei, da DOXA, seja neutralizado?
Nenhum comentário:
Postar um comentário