quarta-feira, 18 de setembro de 2019

MAQUIAVELISMO RAZOÁVEL


 A negociação ou a guerra?
Falsa, a negociação implica
dar vantagens concordes, limitadas,
e aguardar o erro do inimigo
no flanco militar carbonizado –-
mas é no ar condicionado das salas
que a guerra sopra cegamente
seu vento litúrgico: no percurso
ferido das águas, o mar aberto
repassa dores constantes, estranhas
cascas de estorvo político
entre naus errantes, cantam
temores e apreensões marinhas.

Cheia de olhares rumorosos, a
agua fria da guerra desvairada
dos oceanos, murmura falsamente
no litoral do peito a conciliação
dos interesses, dando a ela
a forma exata de um acordo negociado.

Negociam enquanto se enfrentam,
querem um purgatório funcional
ao invés de um inferno de caminhos
vencidos, diplomaticamente, a nados arfantes.

De afogado para afogado, logo
percebe-se que (ostendit incitatque)
um maquiavelismo razoável
interfere nos submarinos
da marinha americana,
e um armistício surreal
continua a guerra
‘’por outros meios’’.

Exércitos regulares de demarcação
aparecem ao fundo da reportagem,
embarcando para um acordo ‘’não-negociado’’
explicitamente na linha de tiro,
onde as zonas de influência
chocam-se com outras causas.

Última trincheira diplomática
submergindo nas entranhas
da maresia, liquefação de um
mar escuro em vagas desordenadas
de críticas desconfiadas de tudo.

Realista e útil, a cabeça fria
é maquiavélica, e sua diplomacia
de gabinete coNfunde
cinicamente todo acordo
com os mútuos disparos
do que se quer na prática.

‘’Empresta-me tua concepção de mundo
por cinco minutos – diz o poeta ---
e tornar-me-ei teu palhaço favorito!
E de tanto rir: a extensão da bile
no âmago de teu esôfago,
onde toda lógica morre asfixiada
‘’aziaticamente’’, ‘’golfando’’.

‘’Razoáveis os interesses em jogo’’
-- continua o palhaço, ou melhor, o poeta ---
‘’Contudo, a bula das hostilidades não
bastará para estancar nosso riso
com os ardis gelados da fala fria
e seus roteiros de armadilha faminta’’.

No submarino nuclear do corpo
pulsa o rumo da linguagem manipulada,
no idioma amargo do espanto
nadando nas artérias,
em que o aceno do ofídio
salpica de ódio toda as palavras
num único ‘’bote’’.





Matheus Dulci, KM

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